O Nordeste aposta no modal ferroviário para ampliar a capacidade de escoamento e exportação dos produtos da região. Após quase duas décadas, governo e setor privado somam forças para concluir as obras da Transnordestina, que chegou a ficar sem repasses por cinco anos. Apesar disso, os entraves já são considerados problemas do passado, e a corrida, agora, é para entregar 100% da infraestrutura até o final da década.
Quando finalizada, a ferrovia terá o formato de um “T” invertido, que forma a junção de três trechos: Eliseu Martins (PI) a Salgueiro (PE); Salgueiro (PE) ao Porto do Pecém, a cerca de 60 km de Fortaleza (CE); e Salgueiro (PE) ao Porto de Suape, a 46 km de Recife (PE). Ao todo, serão 1.206 quilômetros de extensão, com investimento de cerca de R$ 12 bilhões, de acordo com o Ministério dos Transportes.
O governo estima que a Transnordestina deve ficar 100% concluída até 2029. “Essa é hoje a maior obra linear em execução no país, com R$ 7 bilhões já sendo aplicados. Com os novos contratos previstos, esse avanço será ainda maior e, até o início do próximo ano, teremos aproximadamente R$ 1,5 bilhão em obras ferroviárias contratadas apenas para Pernambuco”, disse o ministro dos Transportes, Renan Filho, durante o anúncio da retomada das obras.
Nos últimos dias 26 e 27 de novembro, líderes e representantes do setor de logística se reuniram em Fortaleza para debater o futuro dos novos empreendimentos no país. Na 20ª edição da Expolog – Feira Internacional de Logística, o Correio conversou com o diretor Comercial e de Terminais da TLSA, Alex Trevisan, que disse estar confiante com o andamento das obras.
Em outubro, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) autorizou pela primeira vez o transporte de cargas na ferrovia. De acordo com o órgão, está permitido, em um primeiro momento, o transporte de grãos, algodão, minérios, gesso, gipsita e contêineres. Com o sim da agência, a TLSA, que opera o trecho, espera apenas a liberação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para iniciar a operação.
Porto do Pecém espera crescimento
O Porto do Pecém espera intensificar a exportação de grãos e outros produtos para diversos continentes, sobretudo à Ásia, com a chegada da Transnordestina. Em 2024, sua movimentação geral cresceu 7% em relação ao ano anterior, com cerca de 17,04 milhões de toneladas.
A conclusão das obras da ferrovia pode abrir caminho para o porto com a chegada dos principais produtos do Matopiba (fronteira agrícola formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), como soja, milho e algodão, que atualmente deslocam para outros portos.
O complexo portuário passa por um processo de ampliação, como explica a diretora. A chegada do hidrogênio verde, da amônia, da tancagem e de data centers são alguns dos exemplos de como o Pecém tem se tornado um local mais atrativo para os exportadores e importadores.
“O porto, quando foi instalado, a gente sabia que ia crescer. Tinha um sonho de que ia se tornar um complexo industrial, mas ele hoje é muito maior do que se pensou”, destaca. Para o complexo, Campos acredita que o único modal que ainda necessita de maior expansão é ferroviário.

A única linha que chega atualmente a Pecém vem de outro porto importante do estado, o de Mucuripe, que fica dentro da cidade de Fortaleza. Adilson Benega, diretor comercial e financeiro da Unilink Transportes Integrados Ltda., que conduz a parte operacional do Porto do Pecém, explica que um dos entraves no país, que se reflete no complexo cearense, é o fato de os equipamentos portuários serem importados.
Dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostram que o setor de logística representa atualmente cerca de 12,7% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e responde por mais de 1,5 milhão de empregos diretos.
Apesar dos números expressivos,ainda há grandes desafios a serem superados, como gargalos de infraestrutura, custos de transporte e as desigualdades regionais, principalmente com os baixos níveis de investimento nas regiões Norte e Nordeste.
Diante disso, a Transnordestina é apenas um exemplo de como melhorar a logística e,consequentemente, a qualidade de vida na região.
Um dos maiores complexos portuários do país é o Porto do Itaqui,em São Luís, no Maranhão. Dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) mostram que ele é o porto que mais cresce no Nordeste, com um progresso de 8,45% entre janeiro e agosto deste ano em relação a 2024, em movimentação de cargas.
A expansão do Matopiba é um dos fatores que ajudam a explicar o crescimento do porto maranhense, que investe atualmente na construção de mais um berço (onde o navio atraca) para suprir a demanda crescente.
Desde a implantação do Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram), em 2015, os volumes de granéis sólidos para exportação, sobretudo de soja e milho, passaram a representar hoje 70% de toda a carga que movimenta o porto, como explica a gerente de planejamento do Porto de Itaqui, Luciana Kuzolitz.
“O Matopiba e toda aquela região Centro-Oeste do país é uma região muito forte. Então, esse crescimento traz, também, o crescimento do fertilizante. Só neste ano, a gente já cresceu 1 milhão de toneladas de fertilizante”, destaca.
“A gente tem um orgulho muito grande de ser brasileiro, de estar no Nordeste e de estar crescendo nos níveis que a gente está crescendo com sustentabilidade, com governança, com inovação”, comenta Kuzolitz.
Mesmo em tempos de tecnologia, as ferrovias ainda despontam como um meio de transporte de cargas mais barato e eficiente que o modal rodoviário.
“Você consegue dar viabilidade para essas cargas, principalmente cargas de baixo valor agregado e cujo custo logístico é muito alto”, destaca o diretor comercial da Transnordestina Logística, Alex Trevisan. Como outros empresários e lideranças políticas, ele acredita que o futuro passa pelos trilhos.
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