247 – Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) optaram por não responder institucionalmente às declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que criticou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no caso da tentativa de golpe de Estado. As informações são da Folha de S.Paulo, em reportagem publicada na segunda-feira (7).
Trump afirmou que o Brasil estaria cometendo uma “coisa horrível” em relação ao tratamento dado a Bolsonaro, e acusou a Corte brasileira de perseguição. “Tenho assistido, assim como o mundo, enquanto eles não fazem nada além de persegui-lo, dia após dia, noite após noite, mês após mês, ano após ano. Ele não é culpado de nada, exceto por ter lutado pelo povo”, escreveu Trump em sua publicação.
Ainda segundo a Folha, esse tipo de pressão internacional contra o STF não é novidade. Em maio, o então secretário de Estado americano, Marco Rubio, ameaçou restringir a entrada nos EUA de “funcionários estrangeiros e pessoas cúmplices na censura de americanos”, mencionando o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso Bolsonaro. Já em fevereiro, o Departamento de Estado norte-americano criticou a decisão do ministro de bloquear a plataforma de vídeos Rumble, bastante usada por influenciadores de direita.
Pelo lado do Executivo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se pronunciou. “A defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano”, afirmou o petista em nota oficial. Em entrevista coletiva após a cúpula do BRICS, Lula foi questionado sobre o post de Trump e reagiu com desdém: “Tenho coisa mais importante para comentar”.
Nos bastidores, integrantes do governo observam que enfrentamentos retóricos com os Estados Unidos podem ter efeitos políticos positivos para Lula, reforçando a imagem de um governante que defende a soberania nacional. Além disso, auxiliares do Planalto acreditam que o presidente dos EUA busca fortalecer laços com a base bolsonarista, o que explicaria a interferência verbal em assuntos internos do Brasil.
Nos círculos bolsonaristas, a fala de Trump gerou euforia. Grupos aliados ao ex-presidente pressionam para que os EUA adotem sanções contra Alexandre de Moraes. O ex-assessor de Trump, Jason Miller, estaria entre os articuladores dessa ofensiva, que busca desgastar o Supremo Tribunal Federal e fortalecer narrativas de perseguição.
Apesar disso, o ambiente no STF segue marcado por cautela e institucionalidade. Ministros avaliam que o silêncio pode ser a melhor resposta para evitar a politização do Judiciário em meio à turbulência internacional e às investidas retóricas da extrema direita.