
Em meio ao avanço da tecnologia, à modernização das cidades e à globalização das culturas, uma tradição segue firme e resistente: a festa junina. Celebrado com fogueira, quadrilha, comidas típicas e muito forró, o São João ainda pulsa forte em comunidades urbanas e rurais, passando de geração em geração como um verdadeiro patrimônio afetivo e cultural.
Em Teresina, por exemplo, famílias inteiras se mobilizam para manter viva a tradição. É o caso da dona Raimunda, 74 anos, moradora da zona rural da capital, que há mais de cinco décadas organiza festejos no terreiro de casa. “Comecei ajudando minha mãe a cozinhar milho, fazer canjica e armar bandeirolas. Hoje, vejo meus netos fazendo o mesmo. É uma alegria que não acaba nunca”, conta emocionada.
Para muitos jovens, o São João também se tornou um espaço de conexão com suas raízes. É o caso de João Victor, 19 anos, integrante de uma quadrilha junina da zona Sudeste. “Minha avó dançava quadrilha e eu sempre admirei. Entrei no grupo com 14 anos e hoje ajudo a coreografar. A tradição vive na gente”, diz.
Mesmo com a influência de festas mais comerciais ou urbanizadas, o São João de raiz segue forte, especialmente quando envolvido pela força da coletividade. Nos bairros, escolas e comunidades, a festa segue sendo construída de forma colaborativa: um costura, outro ensaia, um terceiro cozinha.
“É uma festa que une a gente. Une a comunidade, une as gerações. Tem criança ajudando, tem idoso dançando. É um verdadeiro elo entre o passado e o presente”, afirma a educadora popular Maria das Graças, que organiza há 15 anos um arraial comunitário na zona Norte de Teresina.
Especialistas em cultura popular destacam que manter essas celebrações vivas é também uma forma de preservar a identidade de um povo. “O São João é mais do que entretenimento. Ele carrega memória, resistência, religiosidade, afeto. Quando uma comunidade decide manter esse ciclo, ela está dizendo: ‘aqui nossa cultura importa’”, explica o historiador Cleiton Silva.
Em tempos em que muitas tradições se perdem, o São João de raízes mostra que, quando há afeto e pertencimento, a festa não apenas sobrevive — ela floresce.