
O que muitos não lembravam — até o lançamento da cinebiografia Homem com H, nos cinemas e no streaming — é que Ney Matogrosso viveu um dos períodos mais intensos e dramáticos de sua juventude em Brasília. Antes da fama, o artista se envolveu em um relacionamento conturbado que terminaria em tragédia.
Na busca por um lugar para morar na capital, Ney dividiu apartamento com Tonho Cabral, ex-colega de coral e funcionário da Câmara dos Deputados. Foi por meio dele que conheceu Eugênio, um amigo paulista recém-chegado de Paris, descrito na biografia Ney Matogrosso – A Biografia (Companhia das Letras) como um homem alto, moreno, 22 anos mais velho e de gosto sofisticado.
O primeiro encontro entre os dois aconteceu em um restaurante, mas depois disso passaram quase um ano sem se ver. Segundo o livro, Ney optou por se preservar sexualmente durante esse tempo, à espera de Eugênio.
O que começou com romantismo logo se transformou em um relacionamento abusivo. Eugênio controlava até as roupas de Ney, que precisava se trocar caso o parceiro achasse alguma peça “apertada demais”. Ciúmes excessivos e crises constantes marcavam a convivência. Eugênio tentou o suicídio duas vezes — na segunda, quase pulou do quinto andar, sendo impedido por Ney no último instante. Após o episódio, o cantor pediu que ele deixasse o apartamento.
Não demorou para Eugênio retornar. Em uma noite estranha, deixou propositalmente o passaporte à vista. Ney entendeu como uma despedida. Acompanhado de Tonho, foi até o apartamento do ex e entrou por uma janela do banheiro. A cena que encontrou era chocante: sangue, vidros quebrados e frascos de remédio espalhados. Eugênio foi levado ao Hospital de Base — o mesmo onde Ney trabalhava na época — e sobreviveu.
Mesmo após a recuperação, Eugênio voltou a procurá-lo, propondo que recomeçassem a vida juntos em São Paulo. Ney recusou. Em um dos últimos episódios de tensão entre os dois, Eugênio viu um rapaz usando uma camiseta com a imagem de Ney e reagiu com fúria. Naquela noite, tentou enforcar o cantor, dizendo que ele estava mudando por influência de outras pessoas. Ney o enfrentou: “Você quer me matar faz tempo, não é? Então, mate agora.” Eugênio, chorando, soltou seu pescoço e foi embora.
Segundo a biografia, essa foi a última vez que se viram. Meses depois, Ney recebeu a notícia de que Eugênio havia tirado a própria vida, inalando gás de cozinha.