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Praia, Sol e mar: o lado desconhecido da vida dos neandertais

Esqueça a imagem do neandertal vivendo isolado em cavernas geladas, caçando mamutes em paisagens estéreis. Um novo estudo publicado na revista Scientific Reports

Reconstrução de homem neandertal exibida em museu de Paris: visão inédita e muito mais sofisticada de como esses hominídeos viviam – (crédito: Stephane de Sakutin/AFP – 26/3/18)

revela que, há cerca de 80 mil anos, nossos primos extintos aproveitam o Sol e o mar na costa de Portugal. As descobertas, baseadas nas primeiras pegadas de neandertais encontradas no país, mostram uma visão inédita e muito mais sofisticada de como esses hominídeos viviam.

O estudo descreve as pegadas como uma verdadeira janela para o cotidiano pré-histórico. “As pegadas registram um momento específico, quase instantaneamente, permitindo-nos reconstruir o que estava acontecendo; por exemplo, uma caminhada em grupo, uma perseguição, uma fuga ou a presença em uma paisagem específica”, explicam os geólogos Carlos Neto de Carvalho, da Universidade de Lisboa, e Fernando Muñiz, da Universidade de Sevilha. Diferentemente de ossos ou ferramentas, que podem ter sido transportados ou deixados de forma aleatória, as pegadas mostram onde os neandertais estiveram e como se movimentavam.
(foto: Teresa Manera di Bianco/Divulgação)

Rastros de um neandertal seguindo de perto um rastro de preguiça gigante em um substrato lamacento e seco; eles foram produzidos em condições de substrato muito diferentes, o que permite questionar a interpretação da caça(foto: Teresa Manera di Bianco/Divulgação)

(foto: Charles Helm/Divulgação)
Já na Praia do Telheiro, uma única pegada fossilizad

No Monte Clérigo, foram identificadas 26 pegadas, pertencentes a pelo menos três indivíduos de idades diferentes: um adulto, uma criança e um bebê com menos de 2 anos. As trilhas sugerem que eles estavam subindo e descendo dunas íngremes, caminhando devagar ao subir e acelerando ao descer. A proximidade das pegadas infantis indica que o grupo estava perto de um acampamento, enquanto a sobreposição de pegadas humanas e de cervos sugere que estratégias de caça, como emboscadas, já faziam parte do cotidiano neandertal.

Já na Praia do Telheiro, uma única pegada fossilizada aponta para uma adolescente ou adulta, junto de pegadas de aves costeiras, reforçando a ideia de que a vida neandertal não se limitava ao interior, mas explorava intensamente ambientes litorâneos.

(foto: Reprodução)

Distribuição no mapa mundial dos sítios de pegadas de hominídeos marinhos costeiros do Pleistoceno conhecidos até agora (A), destacando os principais sítios de pegadas de AMHs conhecidos na África do Sul, correlativos ambientais e cronológicos da Península Ibérica (B), e os dois novos sítios de pegadas em Portugal descritos no artigo, no âmbito da icnologia dos hominídeos da Península Ibérica (C)(foto: Reprodução)

A dieta dos hominídeos também impressiona pela variedade. Os neandertais do Algarve consumiam principalmente veados, cavalos e lebres, mas também aproveitavam recursos costeiros, como moluscos, caranguejos e até focas. Ou seja, eles não eram apenas caçadores terrestres: sabiam explorar a biodiversidade local de forma flexível, adaptando-se ao ecossistema disponível.

Para Carlos Neto de Carvalho, as descobertas reforçam que os neandertais eram muito mais versáteis e inteligentes do que se pensava. “As pegadas oferecem uma janela única e dinâmica para o comportamento cotidiano: um instantâneo da vida de dezenas de milhares de anos atrás”, afirma o pesquisador.

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