
Ontem, em Campo Maior, um detalhe chamou atenção de quem acompanha os bastidores da política piauiense: lado a lado, o governador Rafael Fonteles (PT) e o prefeito Joãozinho Félix (Progressistas). A cena, que pode parecer apenas institucional, guarda uma carga simbólica importante. Afinal, até bem pouco tempo, estavam em campos opostos. Agora, se reúnem sob a bandeira do programa Diálogos pelo Piauí — oficialmente para tratar de políticas públicas, mas extraoficialmente, com um olho bem aberto em 2026.
Essa aproximação não é isolada. Outros prefeitos ligados ao grupo político de Ciro Nogueira também têm se sentado à mesa com o governador Rafael. A lista inclui nomes como Doutor Segundo (Várzea Grande), Eugênia Nunes (Francisco Ayres) e Júnior Carvalho (Demerval Lobão). A articulação passou pelas mãos experientes dos deputados Flávio Nogueira (federal) e Flávio Nogueira Júnior (estadual), ambos com trânsito em várias alas.
Oficialmente, tratam-se de “reuniões técnicas”, com foco na entrega de serviços e na escuta da população. Mas o fato de terem sido encontros reservados, a portas fechadas e sem a presença da imprensa — o que impediu, inclusive, o acesso do Portalatualize.com — mostra que há muito mais em jogo do que asfalto e iluminação pública.
O que parece estar se desenhando é uma reconfiguração do tabuleiro político estadual. Os “Diálogos pelo Piauí”, mais do que uma agenda de governo, estão se revelando uma estratégia política sofisticada. Rafael está costurando alianças com figuras que, até pouco tempo atrás, orbitavam em torno de Ciro Nogueira. Não se trata apenas de ampliar base para 2026 — trata-se de neutralizar possíveis adversários antes mesmo que se anunciem.
Joãozinho Félix, por exemplo, é um prefeito influente em uma cidade estratégica. Se ele estiver mesmo prestes a mudar de lado, ou ao menos a adotar uma postura mais amistosa com o Palácio de Karnak, o jogo muda de figura. E não é só ele. Quando prefeitos ligados ao Progressistas começam a se alinhar com o governo estadual, ou ao menos a dialogar, é sinal de que as certezas do presente não garantem alianças no futuro.
No fundo, o que se viu essa semana foi o início de uma dança política bem ensaiada, onde cada passo é dado com cautela, mas com rumo certo: 2026. O governador Rafael não está apenas ouvindo o povo — está escutando a base adversária e, quem sabe, seduzindo parte dela para o seu lado.
Renato Bezerra
Jornalista