Urano, o planeta que orbita lateralmente, sempre foi o mais estranho do nosso sistema solar. Desde que a sonda Voyager 2 da NASA sobrevoou o planeta em 1986, os astrônomos se depararam com um mistério intrigante: ao contrário de seus primos gasosos Júpiter, Saturno e Netuno, Urano parecia não ter nenhuma fonte de calor interna importante. Aparentemente, era um mundo inerte e energeticamente morto. Mas essa ideia acaba de ser desmascarada.

Em janeiro de 1986, a sonda Voyager 2 tornou-se a primeira e única espaçonave a visitar Urano, fornecendo-nos as imagens mais icônicas do planeta e os dados que estabeleceram a base para tudo o que sabemos sobre ele. Um dos mais importantes foi seu balanço energético, o calor que ele emite em relação ao calor que recebe do Sol.
Os planetas gigantes têm uma massa imensa, por isso retêm uma quantidade considerável do calor de sua formação e o liberam ao longo de bilhões de anos. Esse fluxo interno de calor é evidente em Júpiter, Saturno e Netuno. Entretanto, os dados do instrumento IRIS da Voyager 2 contaram uma história muito diferente sobre o planeta.
Mistério resolvido
Um novo estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Houston finalmente resolveu o mistério. Depois de analisar décadas de dados, os cientistas mostraram que Urano emite mais calor do que recebe do Sol. Ele não é o planeta inerte que pensávamos ser, mas um mundo dinâmico com um motor interno que, embora modesto, está muito presente no balanço de energia.
Urano é um planeta de extremos
Seu eixo de rotação é inclinado em 97,7 graus, de modo que ele basicamente rola em sua órbita. Combinado com uma órbita extraordinariamente longa, isso causa estações extremas que duram cerca de 21 anos cada, com um hemisfério banhado por luz solar contínua enquanto o outro permanece na escuridão gelada.
Os pesquisadores descobriram que esse ciclo sazonal é a chave de tudo. A energia solar absorvida pelo planeta não é constante, mas varia significativamente ao longo do ano. As análises de 1986, realizadas perto do solstício de inverno do hemisfério norte, não capturaram o quadro completo. Ao calcular a média do balanço de energia ao longo de toda a órbita, os resultados são inequívocos: Urano emite consistentemente 12,5% mais energia do que recebe do Sol.
Se a pergunta é por que a Voyager 2 obteve uma imagem tão enganosa do planeta, a resposta é simplesmente má sorte. Nos dias que antecederam o sobrevoo de 1986, o Sol bombardeou Urano com uma tempestade geomagnética excepcionalmente poderosa. Esse fenômeno comprimiu a magnetosfera do planeta, fazendo com que a espaçonave capturasse dados em um dia de condições extremas.