
O envelhecimento é hoje a grande meta de boa parte da sociedade, seja por meio de dietas para aparentar menos idade, tratamentos “anti-aging” ou até coquetéis que prometem esse efeito — ainda que nossa biologia tenha limites bem definidos. Agora, uma empresa de biotecnologia na China afirma estar desenvolvendo um comprimido capaz de prolongar a vida humana até os 150 anos.
Células zumbis. Para entender como esse suposto composto milagroso funciona, é preciso antes falar sobre o grande inimigo do envelhecimento: a senescência celular. Com o tempo, algumas células deixam de se dividir, mas não morrem. Permanecem em um estado intermediário, se acumulam nos tecidos e passam a liberar substâncias inflamatórias que prejudicam células vizinhas ainda ativas.
Essas células que se recusam a morrer são chamadas de “células zumbis” justamente pelos paralelos com a ficção.
Como agem?
É aqui que entra o PCC1, um flavonoide natural. O interesse maior está em um estudo publicado na revista Nature Metabolism, que aponta o PCC1 como um agente senolítico. Na prática, isso significa que ele tem uma capacidade seletiva relevante para atingir as células que mais nos causam problemas.
Há alguns “poréns”. A base científica usada pelo laboratório chinês para sustentar suas afirmações vem quase exclusivamente de testes feitos em modelos animais. Nos experimentos, os pesquisadores aplicaram PCC1 em camundongos idosos e observaram alguns resultados:
- Redução da carga de células em senescência em órgãos vitais
- Reversão de disfunções motoras, com ganho de força e melhor equilíbrio
- Aumento da expectativa de vida entre 9% e 60%
O grande porém é que tudo isso foi testado apenas em camundongos, não em humanos. E isso leva a uma pergunta simples: por que somos céticos diante da promessa de que poderíamos viver 150 anos? Há vários motivos.
Não somos iguais aos camundongos — nem envelhecemos da mesma forma. Embora também tenhamos células senescentes relacionadas ao envelhecimento, nosso organismo é muito mais complexo. O processo envolve instabilidade genômica, encurtamento de telômeros, disfunção mitocondrial e esgotamento de células-tronco. Por isso, eliminar as “células zumbis” pode melhorar a qualidade de vida na velhice, mas dificilmente nos faria ultrapassar o limite biológico atual da espécie.
A tudo isso se soma o fato de que, até hoje, não há ensaios clínicos publicados que comprovem a segurança e a eficácia do uso desse composto em seres humanos.
Por isso, a conclusão possível é que o PCC1 representa um achado importante e abre caminho para terapias que possam nos ajudar a envelhecer melhor. Mas falar em estender a vida até os 150 anos ainda levanta muitas dúvidas, já que essa “pílula chinesa” dificilmente nos tornará imortais da noite para o dia.






