
Caso levanta alerta sobre a violência contra a população trans no Brasil, uma das mais afetadas por crimes de ódio no mundo
Uma mulher trans de 27 anos, identificada como Samylla Alves Guimarães de Jesus, foi assassinada a tiros na noite da última sexta-feira (18), em uma estrada vicinal da zona rural de Anápolis (GO), nas proximidades da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Até o momento, nenhum suspeito foi preso.
De acordo com a Polícia Científica, o crime ocorreu por volta das 20h e apresenta características de execução. Testemunhas relataram ter ouvido disparos de arma de fogo e o barulho de um veículo deixando o local em alta velocidade.
Segundo a Polícia Civil, uma das linhas de investigação aponta que o crime pode estar relacionado à exposição de clientes feita por Samylla em redes sociais. Ela costumava tornar públicos os nomes de pessoas que, segundo relatava, não efetuavam pagamento pelos serviços contratados.
O delegado responsável pelo caso, Cleiton Lobo, explicou que a polícia agora trabalha para identificar esses clientes. “Essa exposição pública pela falta de pagamento pode ter motivado o crime. Vamos investigar se há conexão entre essas pessoas e o assassinato”, afirmou.
O corpo da vítima foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Anápolis, e o caso segue sob apuração do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH).
Violência contra pessoas trans no Brasil
O assassinato de Samylla não é um caso isolado. O Brasil lidera, há mais de uma década, o ranking mundial de homicídios de pessoas trans. Segundo o relatório anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), somente em 2023 foram registrados 134 assassinatos de pessoas trans, sendo 90% das vítimas mulheres trans e travestis, em sua maioria negras e em situação de vulnerabilidade social.
Além da violência física, a população trans enfrenta cotidianamente discriminação, exclusão escolar, dificuldades no mercado de trabalho e falta de acesso a direitos básicos, o que empurra muitas pessoas para atividades informais ou para o trabalho sexual como única forma de sustento, realidade que amplia os riscos a que estão expostas.
A ANTRA também alerta que a subnotificação é um dos maiores desafios na compreensão da real dimensão da violência. Muitos casos não são registrados como crimes de ódio ou não identificam corretamente a identidade de gênero da vítima.