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Memória: Há 56 anos, a ação mais ousada da guerrilha urbana contra a ditadura militar

Há 56 anos, no dia 4 de setembro de 1969, a guerrilha urbana realizava a sua maior façanha: A captura do embaixador dos Estados Unidos, Charles Burke Elbrick. A ação foi organizada pelo Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8) e pela Ação Libertadora Nacional (ALN), duas organizações de combate armado contra a ditadura militar, regime de força implantado com a derrubada do governo constitucional de João Goulart, em abril de 1964.

Uma Junta Militar, integrada pelas três forças, comandava o país na época. O general Lira Tavares, o almirante Augusto Rademaker e o brigadeiro Márcio Melo, que substituíram o general Costa e Silva, o ditador de plantão, afastado por motivo de doença, junto com o vice-presidente, Pedro Aleixo, um político civil, também defenestrado pelos militares.

Os guerrilheiros do MR8 e da ALN faziam duas exigências para a libertação do embaixador norte-americano: a soltura de 15 presos políticos – lideranças estudantis, sindicais e militantes de esquerda -, e a publicação nos jornais, TVs e rádios do país do manifesto, que denunciava as torturas e os crimes dos militares.

A ação teve intensa repercussão política no país e no exterior, furando o severo bloqueio da censura do regime. Após 78 horas da captura, o embaixador Charles Elbrick foi libertado em 7 de setembro em troca da soltura de 15 prisioneiros políticos, que foram banidos para o México.

O dirigente da ALN Joaquim Câmara Ferreira, codinome Toledo, foi o comandante político da operação e Virgílio Gomes da Silva, codinome Jonas, conduziu o aspecto militar da captura. O então dirigente do MR8, Franklin Martins foi o principal redator do manifesto.

A ação mais ousada da guerrilha urbana foi um ato de resistência que entrou para a história do Brasil, como um gesto de rebeldia diante de um regime de opressão e violência estatal contra todo tipo de oposição – armada ou não. Um regime de terror que infelicitou o país por mais de duas décadas.

A história do sequestro foi narrada em dois filmes, “O que é isso, companheiro?”, do diretor Bruno Barreto, e o documentário “Hércules 56”, dirigido por Sílvio Da-Rin.

“Grupos revolucionários detiveram hoje o Sr. Charles Burke Elbrick, embaixador dos Estados Unidos, levando-o para algum lugar do país, onde o mantêm preso. Este ato não é um episódio isolado. Ele se soma aos inúmeros atos revolucionários já levados a cabo: assaltos a bancos, nos quais se arrecadam fundos para a revolução, tomando de volta o que os banqueiros tomam do povo e de seus empregados; ocupação de quartéis e delegacias, onde se conseguem armas e munições para a luta pela derrubada da ditadura; invasões de presídios, quando se libertam revolucionários, para devolvê-los à luta do povo; explosões de prédios que simbolizam a opressão; e o justiçamento de carrascos e torturadores.

Na verdade, o rapto do embaixador é apenas mais um ato da guerra revolucionária, que avança a cada dia e que ainda este ano iniciará sua etapa de guerrilha rural.

Com o rapto do embaixador, queremos mostrar que é possível vencer a ditadura e a exploração, se nos armarmos e nos organizarmos. Apareceremos onde o inimigo menos nos espera e desapareceremos em seguida, desgastando a ditadura, levando o terror e o medo para os exploradores, a esperança e a certeza de vitória para o meio dos explorados.

Os interesses desses consórcios, de se enriquecerem cada vez mais, criaram e mantêm o arrocho salarial, a estrutura agrária injusta e a repressão institucionalizada. Portanto, o rapto do embaixador é uma advertência clara de que o povo brasileiro não lhes dará descanso e a todo momento fará desabar sobre eles o peso de sua luta. Saibam todos que esta é uma luta sem tréguas, uma luta longa e dura, que não termina com a troca de um ou outro general no poder, mas que só acaba com o fim do regime dos grandes exploradores e com a constituição de um governo que liberte os trabalhadores de todo o país da situação em que se encontram.

Estamos na Semana da Independência. O povo e a ditadura comemoram de maneiras diferentes. A ditadura promove festas, paradas e desfiles, solta fogos de artifício e prega cartazes. Com isso ela não quer comemorar coisa nenhuma; quer jogar areia nos olhos dos explorados, instalando uma falsa alegria com o objetivo de esconder a vida de miséria, exploração e repressão que vivemos. Pode-se tapar o sol com a peneira? Pode-se esconder do povo a sua miséria, quando ele a sente na carne?

Na Semana da Independência, há duas comemorações: a da elite e a do povo, a dos que promovem paradas e a dos que raptam o embaixador, símbolo da exploração.

a) A libertação de 15 prisioneiros políticos. São 15 revolucionários entre milhares que sofrem torturas nas prisões-quartéis de todo o país, que são espancados, seviciados, e que amargam as humilhações impostas pelos militares.

Não estamos exigindo o impossível. Não estamos exigindo a restituição da vida de inúmeros combatentes assassinados nas prisões. Esses não serão libertados, é lógico. Serão vingados, um dia. Exigimos apenas a libertação desses 15 homens, líderes da luta contra a ditadura. Cada um deles vale cem embaixadores, do ponto de vista do povo. Mas um embaixador dos Estados Unidos também vale muito, do ponto de vista da ditadura e da exploração.

b) A publicação e leitura desta mensagem, na íntegra, nos principais jornais, rádios e televisões de todo o país.

Os 15 prisioneiros políticos devem ser conduzidos em avião especial até um país determinado – Argélia, Chile ou México -, onde lhes seja concedido asilo político. Contra eles não devem ser tentadas quaisquer represálias, sob pena de retaliação.

Os 15 companheiros devem ser libertados, estejam ou não condenados: esta é uma “situação excepcional”. Nas “situações excepcionais”, os juristas da ditadura sempre arranjam uma fórmula para resolver as coisas, como se viu recentemente, na subida da Junta Militar. As conversações só serão iniciadas a partir de declarações públicas e oficiais da ditadura de que atenderá às exigências. O método será sempre público por parte das autoridades e sempre imprevisto por nossa parte. Queremos lembrar que os prazos são improrrogáveis e que não vacilaremos em cumprir nossas promessas.

Finalmente, queremos advertir aqueles que torturam, espancam e matam nossos companheiros: não vamos aceitar a continuação dessa prática odiosa. Estamos dando o último aviso. Quem prosseguir torturando, espancando e matando ponha as barbas de molho. Agora é olho por olho, dente por dente”.

Brasil247

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