
© Jaafar Ashtiyeh/AFP/Getty Images // Plataformas como Airbnb, Booking.com e TripAdvisor operam em terras palestinas na Cisjordânia.
Mais de 150 empresas, incluindo gigantes do setor de tecnologia como Airbnb, Booking.com, Expedia e Tripadvisor, operam em assentamentos israelenses em terras palestinas na Cisjordânia – ocupação é considerada ilegal perante o Direito Internacional embora Israel questione isso.
“Empresas operando em contextos de conflito têm a responsabilidade de garantir que suas atividades não contribuam para abusos de direitos humanos”, afirmou a porta-voz do ACNUDH, Ravina Shamdasani. “Apelamos às empresas para tomarem medidas apropriadas e lidar com os impactos adversos de suas atividades sobre os direitos humanos.”
Todas as empresas listadas estavam envolvidas em uma ou mais das dez atividades que o ACNUDH afirma serem particularmente preocupantes do ponto de vista dos direitos humanos, como depósito de lixo, fornecimento de tratores para destruição de habitações e propriedades rurais, equipamentos de vigilância e serviços de hospedagem em regiões ocupadas ilegalmente.
Embora a maioria das empresas esteja sediada em Israel, há multinacionais de outros dez países: Alemanha, Canadá, China, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Luxemburgo, Portugal e Reino Unido.
O que dizem as empresas
Ao todo, a lista da ACNUDH agora reúne 158 empresas. Entre elas está a fabricante alemã de cimento Heidelberg Materials AG – que contestou sua inclusão alegando não atuar mais nos territórios palestinos ocupados.
À agência de notícias Reuters, a Expedia admitiu “conectar viajantes com acomodações operadas de forma independente, inclusive em algumas áreas sob disputa”, mas argumentou que tais anúncios estão “claramente identificados, cumprem com leis internacionais e sanções”, e que estão sujeitos a exames criteriosos baseados em padrões da ONU. Outras plataformas de hospedagem listadas não se pronunciaram até o momento da publicação deste texto.
O que diz Israel

© Nasser Ishtayeh/ZUMA/IMAGO
Israel reagiu afirmando que a iniciativa difama injustamente negócios que atuam legalmente. Oficialmente, o governo cita laços bíblicos e históricos com a Cisjordânia para contestar um julgamento de 2024 da mais alta corte da ONU – que é amparada por boa parte parte da comunidade internacional – e alegar que o território está em disputa.
“Essa base de dados foi pensada para servir como uma lista negra contra negócios que não fizeram nada de errado, já que a lei internacional não tem nenhuma proibição contra atividades empresariais em áreas de conflito”, afirmou a missão diplomática de Israel em Genebra, na Suíça, via comunicado.
A ACNUDH afirmou que aconselhou as empresas listadas e lhes concedeu direito de resposta.
Entidades da sociedade civil argumentam que a lista é uma ferramenta importante para assegurar a transparência de atividades empresariais na Cisjordânia e estimular empresários a refletir a respeito de seus negócios. Mas como ela não tem força de lei, não está claro como a inclusão delas na lista da ONU de fato afeta seus negócios.
Assentamentos israelenses cresceram em área e número desde a captura da Cisjordânia por Israel na Guerra dos 6 dias 5 a 10 de junho de 1967). Eles avançam por território palestino, conectados por um sistema de estradas e outras infraestruturas sob controle israelense. Mais de 500 mil israelenses vivem na Cisjordânia, e outros mais de 200 mil em Jerusalém Oriental.
Nesta semana, uma comissão de inquérito da ONU concluiu que, desde outubro de 2023, as políticas israelenses demonstram clara intenção de transferir palestinos à força, para expandir assentamentos e anexar toda a Cisjordânia. Israel rejeitou o relatório e acusou a comissão de agir com motivações políticas.
O presidente dos EUA, Donald Trump, disse na quinta-feira (25/09) que não permitiria que Israel anexasse a Cisjordânia, rejeitando os apelos de alguns políticos da extrema direita israelense que querem avançar sobre a região para inviabilizar a criação de um Estado palestino – planos que o governo isralense nega ter.
Reuters, AP, AFP