
Lula cobra respeito de Trump e critica tarifa de 50% dos EUA sobre exportações brasileiras
Em entrevista ao jornal norte-americano The New York Times, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que deseja ser tratado com respeito pelo governo dos Estados Unidos e criticou a falta de diálogo sobre a tarifa de 50% imposta pelos EUA às exportações brasileiras, que entra em vigor no dia 1º de agosto. A entrevista, primeira dada pelo presidente ao jornal em 13 anos, foi publicada nesta quarta-feira (30).
Lula disse estar “indignado” com a postura do governo Trump, que, segundo ele, ignora todas as tentativas brasileiras de estabelecer um canal de diálogo para discutir a taxação. “Estamos tratando isso com a máxima seriedade. Mas seriedade não requer subserviência. Eu trato todo mundo com respeito, mas quero ser tratado com respeito”, declarou.
O presidente também criticou a abordagem do governo norte-americano, afirmando que o comportamento de Trump “se distanciou de todos os padrões de negociações e diplomacia”. Segundo Lula, “quando há uma divergência comercial ou política, o correto é conversar e tentar resolver o problema, não impor tarifas e ultimatos”.
A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, que deverá afetar diversos setores, é vista pelo presidente como um passo que pode prejudicar a relação diplomática bilateral, construída ao longo de 201 anos. “Nem o povo americano, nem o povo brasileiro merecem isso”, disse Lula, ressaltando que essa medida pode transformar a relação em um cenário de “perde-perde”.
Sobre as recentes sanções dos EUA a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo a possibilidade de o ministro Alexandre de Moraes ser alvo da chamada Lei Magnitsky, que permite sanções a pessoas acusadas de violações de direitos humanos, Lula defendeu a independência e a autoridade do Judiciário brasileiro. “A Suprema Corte de um país deve ser respeitada não apenas por sua nação, mas pelo mundo”, afirmou.
Lula ainda rebateu a pressão de Trump para que o Brasil interrompa investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, destacando que “o judiciário aqui é independente” e que o país “já sobreviveu a ditaduras e não quer mais”.
O presidente ressaltou que o Brasil não negociará “como um país pequeno contra um país grande”, reconhecendo o poder econômico, militar e tecnológico dos Estados Unidos, mas afirmando que isso não gera medo, apenas preocupação diante do atual cenário.
Por fim, Lula lamentou a falta de contato direto entre os governos. “Eu pedi para fazer contato, mas ninguém quer conversar”, afirmou.