O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, e o governo estão numa encruzilhada com decisões, enquanto decidem como responder aos ataques israelenses contra sua hierarquia militar, defesas aéreas e o programa nuclear.
As ações israelenses apenas ressaltaram que o Irã está em sua pior posição em décadas. Parece indefeso contra os ataques; suas forças aliadas, como o Hamas em Gaza e o Hezbollah no Líbano, que deveriam lhe prestar apoio, foram dizimadas; sua economia está em pedaços; seus líderes militares morreram em suas camas; há uma sucessão incerta de seu líder supremo, hoje com quase 90 anos; e Israel transformou boa parte do investimento no programa nuclear em entulho.

O presidente dos EUA, que por meses pressionou o Irã a limitar seu programa nuclear, apresentou os ataques como um alerta e como um incentivo para que Teerã “faça um acordo, antes que não reste mais nada”. Agora, nesta sexta-feira disse que “eles têm, talvez, uma segunda chance”.
Mesmo se o Irã escolher a cautela e não atingir alvos americanos e aliados na região, não há muitas dúvidas nas cabeças de seus líderes que os EUA são cúmplices dos ataques, diz Vali Nasr, professor na Escola de Estudos Internacionais Avançados na Universidade Johns Hopkins. Mas atingir alvos dos EUA seria a maneira mais garantida não apenas de escalar a guerra, mas também dar a Trump uma razão para se juntar a Israel na ofensiva.
Americanos e israelenses exigem que o Irã desista completamente do enriquecimento de urânio, uma das duas etapas para construir uma arma nuclear. Teerã nega que queira uma bomba, e diz que suas atividades são para fins civis. “Eles não vão desistir do enriquecimento, não é tão simples”, disse Nasr. “Eles não vão se render”.
Do ponto de vista iraniano, Netanyahu não quer apenas abalar e atingir a República Islâmica, militarmente e simbolicamente, mas também tenta “provocar uma crise interna no Irã”, diz Sanam Vakil, diretora do Programa para o Oriente Médio e o Norte da África no centro de estudos Chatham House. Mas como no passado, ela espera que “o sistema, embora fragilizado, se mantenha firme”.
O regime pode estar em risco de certa forma, mas Nasr questiona de onde viriam os riscos, e aponta que o sistema pós-teocracia pode não ser uma democracia e “trazer mais nomes da linha-dura a lugares de destaque”.
A fragilidade do Iram deve acelerar o debate no país sobre a confecção de uma bomba atômica, apesar da promessa da liderança de não fazê-lo, como a melhor ferramenta de dissuasão contra Israel, e que poderá ajudar a garantir sua segurança de forma mais ampla.
“Muitas pessoas no Irã verão que estão encurraladas, que a dissuasão regional falhou, que as negociações não deram em nada e que Israel está à solta, e que a única salvaguarda real seria uma arma nuclear”, disse Julien Barnes-Dacey, do Conselho Europeu de Relações Exteriores.
O Irã pode escolher acelerar o enriquecimento, dispersar suas reservas de urânio altamente enriquecido para locais secretos, expulsar os inspetores internacionais e decidir deixar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (Israel não é signatário e tem uma política de não admitir nem negar ter bombas atômicas). Mas isso também empurraria os EUA diretamente para a guerra.

Mas Khamenei jamais confiou nos EUA ou em Trump, especialmente depois que o presidente americano, em seu primeiro mandato, deixou unilateralmente um acordo nuclear detalhadamente firmado em 2015, que restringia as atividades de enriquecimento em troca do levantamento de sanções, e aplicou novas medidas econômicas.
Se Khamenei pensava que as negociações com os americanos protegiam o Irã dos ataques israelenses, agora vai questionar se um acordo seria capaz de evitar um novo ataque ao seu país, especula Geranmayeh.
“Esta é uma situação muito ruim para Khamenei agora”, opina. “O Irã pode acabar com uma guerra maior e, em seguida, um acordo de paz muito ruim. Mas ele estará sob crescente pressão dos militares e da linha dura para usar os melhores recursos do Irã agora contra Israel”.
Teerã sempre tem opções, disse Suzanne Maloney, especialista em Irã e diretora do programa de política externa da Brookings Institution, um importante centro de estudos nos EUA. Poderia não apenas lançar mísseis, mas também ataques cibernéticos, mobilizar seus grupos militantes aliados ou até mesmo intensificar seu programa nuclear, aproximando-se de uma corrida para uma bomba.
“Mas todas as opções têm consequências que podem colocar o regime em maior risco”, ponderou, acrescentando que, dada a profunda penetração da inteligência israelense no Irã, “eles precisam se perguntar o que ainda está por vir”.