
O município de Pavussu, no Sul do Piauí, decretou estado de calamidade pública nesta terça-feira (5) após um incêndio florestal de grandes proporções devastar a zona rural da região. O fogo, que começou no último domingo (3), já afetou 98 km² de vegetação e trouxe prejuízos severos à agricultura familiar, com perdas estimadas em até 90% da produção local.
Segundo o decreto municipal, a seca prolongada, somada aos ventos fortes e à baixa umidade, contribuiu para o avanço das chamas, afetando diretamente plantações de milho, feijão, arroz e mandioca. Os reservatórios de água da região também operam com menos de 25% da capacidade, agravando o impacto para agricultores e pecuaristas locais.
“Aqui, nossa principal fonte de renda é o plantio e a criação de gado. Já estávamos em situação de emergência por causa da estiagem. Agora, com esse incêndio, a situação que já era crítica se agravou de forma devastadora”, lamentou um representante da prefeitura.
Fogo estabilizado, mas focos persistem
Na manhã desta quarta-feira (6), a Defesa Civil do Estado informou que o incêndio foi estabilizado, mas que ainda há 11 focos ativos em áreas de morro e mata fechada, de difícil acesso. O risco de reignição é alto, especialmente devido aos ventos intensos que atingem a região.
Para conter os focos restantes, o combate será realizado de forma aérea, com o uso de helicópteros e apoio de equipamentos especializados. De acordo com o diretor de Prevenção e Mitigação da Defesa Civil, professor Werton Costa, o plano é concentrar os esforços nas áreas remanescentes com acesso restrito, onde o fogo ainda persiste.
Acesso difícil desafia equipes de combate
Equipes formadas por bombeiros, brigadistas e voluntários vêm enfrentando sérias dificuldades para alcançar os focos mais intensos das chamas, localizados em regiões de serra, com solo pedregoso e vegetação densa. O transporte de maquinário foi necessário para abrir caminhos até as áreas mais afetadas.
“Nosso maior desafio neste momento não é o fogo em si, mas conseguir chegar até ele. A mata é fechada, a região é acidentada, e isso exige o uso de tratores e equipamentos com lâminas para abrir passagem”, explicou Shandallye Araújo, coordenadora de Prevenção e Combate a Incêndios da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí (Semarh).
Um helicóptero do Batalhão Tático Aeropolicial do Piauí (Bopaer) foi deslocado para a área para ajudar na identificação dos focos e no combate aéreo. A água utilizada no abastecimento da aeronave será coletada na lagoa do município.
Rastro de destruição e medo no campo
Além da perda quase total das lavouras, produtores rurais têm sido forçados a libertar gado e abelhas para evitar que os animais morram presos pelas chamas. Muitos agricultores relatam não conseguir mais acessar suas propriedades com segurança.
“É gado, são animais meus. Eu tenho o maior medo. Se o fogo entrar, não dá tempo tirar. Já vim três vezes aqui, só de preocupação”, relatou o produtor Francinaldo Miranda, que mantém terras na zona atingida.
A Defesa Civil estadual acionou o Ibama, que acompanha o caso e pode enviar reforços caso os focos se reativem com os ventos dos próximos dias.
O prefeito Winicius Valério (PSD) afirmou que Pavussu nunca havia enfrentado um desastre natural dessa magnitude. “Nunca existiu na história do nosso município um incêndio com essa proporção. A população está aflita. Estamos diante de um cenário de destruição e incerteza”, declarou.