PUBLICIDADE

Geraldo Vandré completa 90 anos em dia emblemático para a América Latina

A canção “Caminhando”, ficou terminantemente proibido durante anos seguidos.

Em uma confluência de incríveis coincidências, neste 11 de setembro – data em que aniversariam tenebrosas transações: o golpe militar no Chile dado por Pinochet os atentados às torres gêmeas e ao Pentágono, nos EUA – o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados foram duramente condenados pela trama golpista.

Dia seguinte, com o país em meio a uma enorme ressaca cívica, o cantor e compositor paraibano Geraldo Vandré completa inacreditáveis 90 anos de vida. O artista, como se sabe, foi um dos mais perseguidos pela malfadada ditadura militar nos anos 60 e 70 no Brasil. A causa, como se sabe, foi, sobretudo, a canção “Pra não dizer que não falei das flores”, que ganhou o apelido abreviado de “Caminhando”. Nela, Vandré lembrava os “soldados armados, amados ou não, quase todos perdidos de armas na mão”.

Caetano Veloso, colega de profissão, contemporâneo e também participante dos lendários festivais da TV Record, afirmou em entrevista ter ouvido durante a sua prisão pelos militares, que se Vandré fosse encontrado, seria morto. A essas alturas, em 1970, o compositor já havia se exilado em Paris, onde gravou seu último e mais emblemático álbum “Das Terras do Benvirá”.

Nunca foi, portanto, pego pelos militares.

Censurado

O disquinho, na época um compacto simples, com a canção “Caminhando”, ficou terminantemente proibido durante anos seguidos. Lembro bem que a gente era obrigado a ouvi-lo baixinho, todos em torno da vitrolinha Sonata do Seu Júlio, como se fosse um hino. E, de fato, foi o que se tornou. A canção era bradada em manifestações que, invariavelmente, acabavam com muita porrada e gás lacrimogêneo. Veio, enfim, a anistia e ela perdeu um pouco a graça, com seus dois acordes e a melodia repetitiva.

O restante da obra de Vandré, no entanto, permanece até hoje como uma das belas e seminais da nossa música. Um tanto folclorizada e extremamente politizada, sua música tem sido frequentemente resgatada em novelas, filmes, documentários. São apenas cinco álbuns, todos influenciados pela canção nordestina.

Em ao menos um deles, o “Canto Geral”, vale o destaque para a participação do lendário Quarteto Novo, que contava com Hermeto Paschoal, Airto Moreira, Theo de Barros e Heraldo do Monte.

Nestes álbuns, canções poderosas como “Réquiem para Matraga”, “Porta Estandarte”, “Aroeira”, “Ventania” e, é claro a inesquecível “Disparada”. Sobre ela, o mesmo Caetano comentou a respeito do empate entre ela e “A Banda”, de Chico Buarque, no 2º Festival de Música da TV Record em 1966. Segundo o compositor baiano, “Disparada”, feita em parceria com Theo de Barros, era de longe a melhor canção de Vandré, enquanto “A Banda” não era nem de longe a melhor do Chico.

Com o fim da ditadura, Vandré voltou ao Brasil e passou a ter uma vida discreta, com raras aparições em entrevistas. Nesta sexta-feira, 12 de setembro, em um dia emblemático para a América Latina e para o mundo, ele completa 90 anos. Um artista que tem um legado enorme e, ao mesmo tempo, curto.

Revista Fórum

Revista Fórum

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!

PUBLICIDADE

RECENTES

MAIS NOTÍCIAS