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Crimeia volta ao centro das negociações de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia

Foto: REUTERS/Alexey Pavlishak

Horas antes da reunião entre os presidentes dos Estados Unidos e da Ucrânia, Donald Trump e Volodymyr Zelensky, em Washington, os dois mencionaram a Crimeia em suas redes sociais. O tema reacende um dos principais impasses da guerra: o futuro da península e de outros territórios ocupados pela Rússia.

Apesar de afirmar publicamente que não aceitará a cessão de terras em troca da paz, Zelensky enfrenta pressões nos bastidores para considerar concessões. Circulam rumores de que os Estados Unidos estariam incentivando Kiev a aceitar um acordo que incluiria o reconhecimento da Crimeia como parte da Rússia, além de outras condições exigidas por Moscou.

A Crimeia, com cerca de 27 mil km², é um território estratégico no Mar Negro. O porto de Sebastopol garante acesso direto ao Mediterrâneo, tornando a região vital para operações militares e comerciais. Conquistada pelo Império Russo no século 18, a península foi transferida em 1954 pelo líder soviético Nikita Khrushchov da República Socialista Federativa da Rússia para a Ucrânia, em um gesto simbólico dentro da União Soviética. A dissolução do bloco, em 1991, transformou essa decisão em um dos pontos mais sensíveis da política pós-soviética.

Em 2014, após a deposição do presidente ucraniano pró-Rússia Viktor Yanukovich, forças militares russas ocuparam a Crimeia. Um referendo foi realizado, e a maioria dos votantes declarou apoio à anexação pela Rússia. Poucos dias depois, Vladimir Putin formalizou a incorporação da península, afirmando que ela sempre fez parte do território russo. O pleito, no entanto, não foi reconhecido por Kiev nem pela comunidade internacional.

A Ucrânia defende que suas fronteiras sejam as mesmas de 1991, quando se tornou independente, até a anexação da Crimeia em 2014. A Rússia, por outro lado, reivindica não apenas a península, mas também outras regiões que, somadas, representam cerca de 20% do território ucraniano.

Entre essas áreas está a província de Kherson, vizinha da Crimeia. Conhecida por suas terras férteis ao longo do rio Dnieper, é uma das maiores regiões agrícolas da Ucrânia. Kherson foi ocupada pela Rússia logo após o início da invasão em fevereiro de 2022 e funciona como ligação estratégica entre a Crimeia e o Donbas.

Zaporizhzhia também figura entre os territórios em disputa. Localizada entre a Crimeia e o Donbas, a região foi alvo de ofensiva russa em 2022. Ali está a maior usina nuclear da Europa, construída entre 1980 e 1996, que permanece em grande parte paralisada desde que Moscou assumiu seu controle, afetando o fornecimento de energia na Ucrânia.

O Donbas, formado pelas províncias de Donetsk e Luhansk, é outro ponto de conflito central. A região é historicamente marcada por tensões entre populações de origem ucraniana e russa. Rica em carvão e dotada de importante parque industrial, tornou-se foco de disputas já em 2014, quando grupos separatistas pró-Rússia proclamaram repúblicas independentes. Moscou deu apoio militar indireto, mas negou envolvimento direto até 2022, quando reconheceu oficialmente os dois territórios pouco antes de lançar sua ofensiva em larga escala.

O destino dessas regiões é hoje o principal entrave para qualquer avanço em um acordo de cessar-fogo. Enquanto Kiev insiste em recuperar a totalidade de seu território, Moscou condiciona a paz ao reconhecimento das anexações. A definição da Crimeia e das demais áreas ocupadas deverá ser decisiva para os rumos da guerra e para a estabilidade da Europa nos próximos anos.

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