A literatura clássica brasileira encontrou uma forma inusitada de se conectar com as novas gerações: os memes. Estudantes da 3ª série do ensino médio do Centro Estadual de Tempo Integral (Ceti) Inês Rocha, em Piracuruca, estão transformando obras consagradas em conteúdos digitais humorísticos, aproximando os jovens da leitura e da análise crítica das narrativas.
A iniciativa faz parte do Clube de Leitura da Secretaria de Estado da Educação (Seduc-PI), que tem como objetivo estimular a interpretação, a reflexão e o debate sobre temas literários, utilizando linguagens contemporâneas. Para isso, os alunos reinterpretam trechos de clássicos da literatura brasileira e os transformam em memes, incorporando ironia, humor e referências do cotidiano.
Entre as obras trabalhadas estão Vidas Secas, de Graciliano Ramos, Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector. Cada escolha foi estratégica: os alunos buscavam obras que oferecessem elementos ricos para a criação de conteúdo visual e textual, possibilitando crítica social, reflexão filosófica e humor.
“O objetivo não é apenas divertir, mas desenvolver a capacidade de interpretar textos complexos e dialogar com eles de forma criativa”, explica a professora Darlene Araújo, idealizadora do projeto. Segundo ela, a produção de memes permite que os estudantes exercitem análise crítica, síntese de ideias e criatividade, habilidades essenciais para o aprendizado e para a formação cidadã.
Entre os exemplos produzidos, destaca-se um meme inspirado em Vidas Secas, que utiliza o nome da cachorra Baleia para discutir questões de fome e escassez de maneira leve e acessível. Outros memes transformam reflexões filosóficas de Machado de Assis em situações cotidianas ou brincadeiras irônicas que aproximam a narrativa da experiência jovem.
O projeto tem despertado interesse não apenas entre alunos, mas também entre educadores, que veem na combinação de literatura e cultura digital uma alternativa para renovar métodos de ensino e aumentar o engajamento. Além disso, a iniciativa reforça a ideia de que obras clássicas não são distantes ou inacessíveis; pelo contrário, podem ser interpretadas e reinventadas à luz do presente.
Com criatividade, humor e reflexão, os estudantes de Piracuruca mostram que a literatura brasileira pode ganhar novas formas de vida na era digital, conectando tradição e inovação em um diálogo único entre o passado e o presente.
