Os cardiologistas Heitor Maurício de Medeiros, 70 anos; Maria de Fátima Albanez de Medeiros, 66; inspiraram os três filhos, Tieta, 38; Heitor, 36; e Marina, 33, a seguirem a carreira de medicina — e na mesma especialidade do casal. Os cinco trabalham juntos em três hospitais de Recife. A profissão também foi a escolha de muitos tios e primos, além do avô materno. – (crédito: Gleyson Ramos)
A família pernambucana Albanez Albuquerque de Medeiros carrega uma história peculiar quando o assunto é atuação profissional. O casal Maria de Fátima Albanez Albuquerque de Medeiros, 66 anos; e Heitor Maurício de Medeiros Filho, 70 anos, ambos médicos cardiologistas, tem três filhos: Maria Antonieta, ou Tieta, como é mais conhecida, 38; Heitor, 36; e Marina, 33, que seguiram os passos dos pais e se formaram em medicina com especialização em cardiologia. Há seis anos, os cinco trabalham juntos. Hoje, atuam no Real Hospital Português, no Hospital São Marcos e na Unimed, em Recife
Formada em 1981 pela Universidade de Pernambuco (Upe), Maria de Fátima conheceu o marido, graduado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) no mesmo ano, ainda na formação, no Hospital Oswaldo Cruz. Em 2011, a filha mais velha do casal, Tieta, deu sequência ao legado da família e conquistou o diploma de médica pela Universidade de Pernambuco (Upe). No ano seguinte, foi a vez do irmão do meio, Heitor, que fez a Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS). Em 2015, a caçula se graduou pela mesma instituição. Posteriormente, todos optaram pela cardiologia e continuam se especializando na área.
Incentivo
A medicina não se restringe ao casal e aos filhos, mas foi a profissão escolhida por muitos parentes, como tios e primos. Em casa, Maria de Fátima também teve exemplo dos pais: “Meu pai era médico e, minha mãe, embora não tenha feito medicina, era entusiasta da carreira”. Assim, ela e os quatro irmãos se tornaram médicos e, com exceção de um, todos se casaram com profissionais do mesmo ramo.
Assim como a esposa, Heitor Maurício teve incentivo para fazer medicina desde cedo. Ele diz que nasceu no dia 18 de outubro, Dia do Médico, e que sua mãe tomou isso como um sinal de que esse seria o destino dele: “Ela sempre dizia que eu ia ser médico. A medicina já nasce comigo”. A vontade de aprender levou Heitor a se dedicar aos estudos. “Sempre fui uma pessoa que enfrenta as desavenças, e isso fez com que eu vencesse. A cada conhecimento novo, ficava mais animado, era espetacular”, compartilha, sorridente.
Heitor conta que voltava para casa “entusiasmado” após operar pacientes cardíacos com êxito e salvar vidas, mesmo quando era chamado pelo hospital aos fins de semana e feriados. “Meus filhos sempre me viam com semblante alegre. Eu saía assim para uma chamada de emergência e voltava do mesmo jeito, por ter salvado uma vida. Isso fez crescer um ímpeto neles”, relembra.
Para Tieta, ver a realização dos pais e ter contato direto com o dia a dia da profissão foram os grandes atrativos para que ela e os irmãos buscassem o mesmo caminho. “Eles sempre foram empolgados, gostavam muito do que faziam. Desde pequenos, nos levavam para o hospital. Eu via meu pai fazendo hemodinâmica, ficávamos brincando na sala do cateterismo. Então, crescemos pensando em fazer medicina”, descreve.
Marina complementa que as conversas sobre o trabalho em casa eram tão frequentes que seria difícil atuar em outra área. “No horário de almoço, a gente não tinha opção, era conversar sobre cardiologia, então a gente entendeu isso como natural nas nossas vidas e buscamos esse interesse, que sempre fez parte da rotina”, explica.
Convívio
Registro de uma cirurgia com participação do pai, Heitor Maurício de Medeiros Filho, e dos filhos, Heitor (E) e Tieta (foto: Fotos: Arquivo pessoal)
No hospital, os cinco profissionais atendem em consultório, mas cada um tem seus pacientes e é responsável por outras funções. Marina trabalha com a parte de exames de imagem, como ressonância magnética e tomografia, enquanto o pai e os irmãos atuam como cirurgiões cardíacos. Tieta diz que o convívio favorece o debate sobre casos clínicos e procedimentos, o que facilita o trabalho dos médicos e dá maior qualidade aos atendimentos: “Cada um traz as suas ideias e a gente chega a um consenso sobre a melhor solução”
A médica também conta que costuma recorrer à mãe para tirar dúvidas, que considera a “cabeça clínica” da família. “Quando tem que trocar uma válvula ou desobstruir uma artéria de um paciente da minha mãe, ela indica o procedimento para nós. E, se tenho uma dúvida, bato na porta dela, ao lado da minha, para ter ideia do que falta no meu raciocínio, já que tenho bem menos experiência que ela, e isso ajuda muito”, relata.
Por compartilharem a rotina no hospital, o filho Heitor percebe que é mais fácil organizar os horários de cada um, quando precisam se ausentar do trabalho ou são chamados para fazer cirurgias de emergência. “Nosso horário é muito variável, porque ficamos de sobreaviso para operar, então, a gente precisa de muita ajuda para cobrir o outro, principalmente nos fins de semana, feriados e viagens. Em família, isso é bem mais fácil do que se fossemos só colegas”, expõe.
Apesar da troca de experiências e da melhor organização, o convívio frequente gera conflitos, como discordância sobre a condução de casos e choque de horários, mas Tieta garante que isso é uma parte normal do trabalho em equipe e que a família sempre se resolve sem grandes dificuldades. Marina acrescenta que a convivência no hospital ameniza o cansaço da rotina e brinca: “A gente quer tirar férias um do outro”
A dinâmica não é positiva apenas para a família, mas também para os pacientes, que, segundo Tieta, se sentem mais acolhidos. “Como trabalhamos juntos, tratamos o paciente como se fosse nosso familiar, então eles ficam tranquilos de serem atendidos por um de nós quando o outro não pode e sentem-se mais confortáveis”, conta. Para Marina, é como se ela, os irmãos e os pais fossem uma “extensão de cuidado”
Salvar vidas
Para a família de médicos, todos os dias há casos marcantes. Tieta explica que cada um deles tem suas particularidades, mas no geral, chegam muitos pacientes graves ao hospital, “entre a vida e a morte”. Na opinião dela, a maior gratificação da sua profissão é poder salvar vidas, mesmo com a falta de perspectiva dos familiares daquelas pessoas.
“Uma vez, um paciente teve uma parada cardíaca em uma corrida. Fizemos o procedimento no hospital e conseguimos recuperá-lo. Hoje, ele está em casa e voltando a correr. Esses pacientes retornam felizes e gratos por termos salvado a vida deles e, para a gente, isso é uma motivação muito grande”, compartilha, alegre.
Para o filho Heitor, o que mais o encanta na profissão são os casos agudos, em que os pacientes são de risco e o problema precisa ser resolvido com celeridade. “É sobre você mudar o destino de uma pessoa com dores muito fortes e chance de morte súbita, no curto prazo que você tem para encontrar uma solução imediata”, destaca.
Já para Marina, reconhecer um problema por meio dos exames de imagem, orientar o tratamento com base nisso e proporcionar maior qualidade de vida aos pacientes são suas maiores alegrias como profissional. “Quando identifico um diagnóstico nunca antes descoberto e percebo que vou abrir portas para um novo tratamento, isso me dá prazer e a noção da responsabilidade que tenho. Fico muito feliz de poder ampliar a visão dos cardiologistas para além de outros métodos. Temos em nossas mãos o presente e o futuro dos pacientes”, relata, honrada.
Aprendizado
Familia de médicos. Rebeca, minha anestesista, prima (foto: Arquivo Pessoal.)
Heitor Maurício diz que se orgulha muito dos filhos, não só por terem seguido os passos dos pais, mas pelos profissionais de excelência que se tornaram. Após anos de convivência no hospital, o pai reconhece que ainda tem muito o que aprender com eles. “Tieta e Heitor sempre me acompanham nos procedimentos mais complexos. Hoje, eu os observo e aprendo com eles. Para mim, eles são os melhores e me orgulha tê-los como protagonistas na parte hemodinâmica e estrutural”, conta, sorridente.
Prevenção
Tieta, que faz sucesso na internet contando o dia a dia da família no trabalho, mostra preocupação com a grande quantidade de pacientes jovens que estão infartando. “Antes, isso era mais comum depois dos 55 anos, mas agora está ocorrendo muito com pessoas abaixo dos 40”, aponta. Por isso, ela destaca a importância de fazer exames de rotina para o coração e buscar acompanhamento médico para uso de substâncias controladas, como reposição hormonal, e antes de iniciar exercícios físicos de alta intensidade.
Marina também ressalta que muitas doenças podem ser silenciosas, como em casos genéticos, então, a prevenção é essencial. “Sem informação, as pessoas ficam vulneráveis e acham que estão seguras. Muitas vezes, um eletrocardiograma e um exame físico são suficientes, mas importante fazer um check-up, porque do básico a gente parte para exames mais complexos, a depender do caso”, explica.