
O Piauí é o estado brasileiro que apresentou o maior aumento na taxa de homicídios de mulheres negras nos últimos dez anos, segundo o Atlas da Violência, divulgado na segunda-feira (12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Entre 2013 e 2023, o crescimento foi de 58,6%, enquanto a média nacional apontou uma queda de 20,4%.
Nos últimos cinco anos (2018 a 2023), o estado também aparece entre os piores do país, com aumento de 39,4% na taxa, o único a figurar entre os três piores nas duas comparações. O levantamento considera registros do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde.
Além do crescimento alarmante, o risco de uma mulher negra ser assassinada no Piauí em 2023 foi 4,2 vezes maior do que o risco de uma mulher não negra. A média nacional é de 1,7. Isso significa que, no estado, a desigualdade racial no acesso à segurança e à proteção da vida é ainda mais grave do que a registrada no Brasil como um todo.
O Atlas destaca que, apesar de a violência atingir mulheres de todas as raças e classes sociais, os dados evidenciam que as mulheres negras — pretas e pardas — são as principais vítimas da letalidade feminina no país. Em 2023, elas representaram 68,2% dos homicídios femininos registrados no Brasil.
O cenário descrito no relatório é reflexo do cruzamento entre o racismo estrutural e a violência de gênero. Segundo os pesquisadores, enfrentar o feminicídio exige uma abordagem interseccional, que reconheça a realidade específica das mulheres negras e combata as desigualdades históricas que aumentam sua vulnerabilidade.