Você já parou para pensar o quanto é valioso o sorriso sincero e genuíno das crianças? Quando se trata daquelas que tiveram suas vidas atravessadas pela violência, essa expressão de felicidade torna-se ainda mais especial.
E uma coisa é certa: as crianças são felizes no simples. Estes momentos de diversão e descontração ajudam no processo de cura interior e desenvolvimento infantil. Oportunidade que muitas vezes não chega para as 175 crianças que hoje moram em abrigos na capital.
Na zona norte da Teresina, há mais de três décadas a Casa Savina Petrili acolhe meninas vítimas de violência sexual, psicológica e que sofreram algum tipo de negligência. Atualmente o abrigo acolhe 28 crianças. Por lá elas recebem todos os cuidados. Têm moradia, alimentação e acesso à escola. Mas, necessitam de algo mais: de socialização e convívio externo. Para atender esta necessidade, há 10 anos a Angélica chegou na casa. Tornou-se madrinha afetiva de uma, duas, três crianças e quando se deu conta já estava com dezenas de afilhadas.
“Eu fui convidada para participar uma festinha em um abrigo aqui em Teresina, depois a gente terminou apadrinhando três crianças. Depois conheci a Casa Savina e já acolhi a casa toda. É uma emoção demais vivenciar esta experiência. Eu e meu marido levamos alguns pra casa. Já fizemos diversos passeios, festas de aniversário e até virada de ano com algumas crianças. É uma sensação muito gostosa de sentir”, explica a empresária Angelica Alves.
A legislação, conforme o Estatuto da Criança do Adolescente prevê a iniciativa a estabelecer que as crianças e adolescentes em programa de acolhimento institucional ou familiar poderão ser apadrinhados. A ciência aponta que a socialização contribui em diversos aspectos do desenvolvimento infantil. Por isso, os vínculos externos à instituição de acolhimentos tornam-se fundamentais durante a permanência das crianças longe de um seio familiar.
Em âmbito estadual, os órgãos de proteção e defesa das crianças e adolescentes atuam na conscientização e disseminação de informações para que o número de padrinhos e madrinhas aumente na capital e no interior.
“A Campanha do apadrinhamento afetivo foi desenvolvida no Ministério Público com a intenção de dar visibilidade a esse tipo de serviço voluntário que existe, previsto em nossa legislação. Pessoas da sociedade civil que possam apadrinhar tanto afetivamente como financeiramente uma criança que esteja em uma instituição de acolhimento. Importante dizer que cada criança tem a necessidade de uma atenção especial, individualizada. Uma criança que está passando por este momento de dificuldade precisa de alguém que possa levá-la pra passar, que possa escutá-la e conviver com ela”, esclarece a promotora de Justiça, Joselisse Nunes, coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa da infância e Juventude.
E na prática a lista de padrinhos ainda precisa crescer. Na Casa Savina Petrilli, mantida pela Congregação das Irmãs dos Pobres de Santa Catarina de Sena, 28 crianças são acolhidas, mas somente 1 padrinhos e madrinhas estão ativos. Essa baixa causa impacto, afinal, quem faz o serviço vê de perto a contribuição do projeto de apadrinhamento.
“Com o tempo, a gente percebe cada vez mais o quanto é importante que as crianças tenham esse contato com uma família que dê para elas amor, carinho e se preocupe com as meninas. Esse projeto quer que elas saiam desse ambiente de acolhimento e faça uma experiência com uma família”, esclarece a diretora da Casa Savina Petrilli.
As famílias e pessoas interessadas em integrar o projeto e transformar vidas pode procurar uma das casas de acolhimento de crianças e adolescentes da capital. Na zona norte da capital, a casa Savina fica na Rua Governador Artur de Vasconcelos, 4771, bairro Alto Alegre.
“Quem chega é recebido por nossa equipe e recebe todas as orientações. Fazemos primeiro um cadastro. Essa pessoa passa por uma entrevista detalhada e conhece a ideia do nosso projeto. Depois vamos apresentando a ela nossas atividades e os primeiros encontros com as crianças acontecem na própria casa. Depois, pouco a pouco, à medida que os laços se fortalecem. Mas, tudo é feito com a ciência da justiça e dos órgãos de proteção, uma vez que estas crianças estão sob a tutela do Estado”, é o que pontua a assistente social da Casa, Lorena Veloso, responsável pelo primeiro contato com os que respondem ao chamado para apadrinhar e transformar vidas.
Chamado que a Angélica não se arrepende. A vida das crianças e dela foram transformadas em alegria, a cada novo encontro. “Nós, eu e o Francisco, meu esposo, não somos mais os mesmos. A gente volta de cada momento renovado, com tanto carinho que recebemos. A vida é mais feliz quando partilhamos com alguém”, finaliza a empresária que há uma década decidiu ser madrinha afetiva.
Como ser um padrinho ou madrinha?
Ter idade mínima de 18 anos, sendo a diferença de idade de 16 anos entre padrinho e afilhado, nos casos do apadrinhamento afetivo
Disponibilidade afetiva para conviver com a criança ou adolescentes por um longo prazo
Disponibilidade para participar de todo o processo de preparação e seleção
Disponibilidade de tempo para convivência com a criança ou adolescente
Apresentação de documentação
Por Renato Bezerra