Um filhote de peixe-boi marinho (Trichechus manatus) foi encontrado morto nesta quinta-feira (28), por uma equipe do Instituto Tartarugas do Delta na Praia Pedra do Sal, em Parnaíba, litoral do Piauí. Tratava-se de um filhote macho, que media cerca de 137 centímetros e estava em avançada decomposição, impossibilitando determinar a causa da morte. O caso preocupa especialistas que alertam para o impacto no ecossistema local.
A informação do peixe-boi avistado na Pedra do Sal havia sido repassada por pescadores há alguns dias. Contudo, a equipe de campo com apoio da comunidade, não localizou o animal. De acordo com as informações levantadas, se tratava da avistagem de um animal portando localizador, o que não confere com o animal registrado pelos técnicos de campo.
O animal foi registrado no dia 27 de novembro, pela equipe do ITD, durante o monitoramento de praia, e repassou a informação para a Comissão Ilha Ativa, que atua com pesquisa de peixe-boi na APA Delta do Parnaíba. Os técnicos acreditam que o animal nasceu em mar aberto, e já havia encalhado há algum tempo, em função do seu estado avançado de decomposição.
“Infelizmente representa uma perda significativa para o ecossistema costeiro e para a conservação da espécie. Somam-se ao todo 7 animais vivos, que encalharam ainda filhotes no Piauí, que hoje se encontram em recinto de reabilitação, e 4 filhotes encontrado mortos, desde 2016. Esses dados reforçam a necessidade de entender o que vem afetando o nosso litoral, que vem causando esses encalhes e preocupando as instituições. Estamos em uma região com uma intensa ocupação costeira, supressão de vegetação, o que afeta diretamente áreas abrigadas, que são prioritárias para a conservação da espécie, e que pode estar ligada a esse número de encalhes”, relata Liliana Souza, presidente da Comissão Ilha Ativa.
De acordo com Matheus Oliveira, agente ambiental da APA Delta do Parnaíba, esse é o segundo encalhe de filhote de peixe-boi na região da Pedra do Sal. O primeiro foi em 2023, onde o animal foi resgatado e está em processo de reabilitação em Itamaracá-PE.
“E agora registramos esse encalhe morto, na mesma região. Precisamos ficar atentos, fortalecer ações e proteger esses animais, que é espécie chave para o equilíbrio ambiental”, relata.
O Piauí vem apresentando sucessivos encalhes de filhotes, neonatos, desde o ano de 2016. No Brasil, as principais ameaças para preservação da espécie de peixe-boi marinho são: colisões e atropelamentos; Perda e degradação de habitats; encalhes de neonatos; Lixo e contaminantes; Turismo de observação; Molestamento; Exploração de petróleo e gás.
Nos estudos realizados por diversos pesquisadores, uma das grandes ameaças listadas para os peixes-bois, nos estuários Timonha e Ubatuba e Camurupim e Cardoso, são os avanços das fazendas de camarão e salinas, que são instaladas principalmente nas áreas de manguezais, áreas prioritárias para preservação da espécie.
Antigamente, a maior ameaça aos peixes-bois marinhos seria a caça predatória, que dizimou grande parte da população que ocupa a costa brasileira. Há também a captura acidental, com a pesca de arrasto para camarão, além do que essa prática causa destruição dos bancos de fanerógamas marinhas, locais onde a espécie se alimenta.
Ainda no Piauí, foi identificado uma crescente ocupação desordenada, especulação imobiliária, nas áreas consideradas áreas de preservação, regiões costeiras, mangues, entre outras, diminuindo a área de vida, causando perda de habitat, redução das áreas para as fêmeas parirem os filhotes, fazendo com que as mesmas tenham suas crias, em mar aberto, causando os encalhes dos neonatos.
Especialistas destacam que é necessário buscar fortalecer as ações de preservação da espécie, maior fiscalização com aplicação de penas, bem como a possibilidade de promover recuperação dos danos ambientais, contribuindo para a redução das ameaças que incidem sob as populações de peixes-bois.
Fonte:
Portal A10+