Autora da narrativa que desencadeou um ataque coordenada da mídia liberal contra ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), a jornalista Malu Gaspar recuou e admite, em novo artigo divulgado nesta segunda-feira (29) no jornal O Globo, que o ministro Alexandre de Moraes não teria feito “pressão” sobre o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, no caso Banco Master.

No texto publicado em 22 de dezembro, a jornalista afirma que “Moraes procurou o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, pelo menos quatro vezes para fazer pressão em favor do Banco Master”, desencadeando a narrativa que fomentou o ataque da mídia liberal ao ministro.
Moraes e Galípolo negaram a informação e disseram que as reuniões trataram das sanções contra o ministro e a esposa, a advogada Viviane Barci de Moraes, pela Lei Magnitsky.
No artigo desta segunda-feira (29), em que diz que a “acareação de Toffoli ajuda plano da defesa do Master para desmontar investigação de fraude”, Malu Gaspar recua sobre Moraes.
Malu Gaspar então recorre a outra narrativa “revelada” por ela, sobre o contrato do escritório de Viviane Barci com o banco de Vorcaro. Divulgada em tom sensacionalista pela jornalista em 9 de dezembro, o contrato já era de conhecimento público e foi citado em reportagem no dia 7 de abril em que a Folha de S.Paulo narra que a “compra do Master abre guerra de banqueiros e causa divisão política em Brasília”. Os banqueiros nesta guerra seriam Vorcardo, do Master, e André Esteves, do BTG Pactual.
“Moraes, cuja mulher tem um contrato de prestação de serviços jurídicos de R$ 130 milhões com o banco, disse gostar de Vorcaro e recorreu a um argumento muito usado à época – o de que o banqueiro vinha sendo perseguido pelos grandes que não queriam concorrência”, escreve a jornalista, recuando sobre Moraes em seguida.
“Ao ser informado por Galípolo de que o BC havia descoberto as fraudes, Moraes recuou e disse que tudo precisava ser investigado”, emenda.
Reverter a liquidação?
No artigo, Malu Gaspar diz que a acareação marcada por Dias Toffoli para esta terça-feira (30) entre Daniel Vorcaro, Ailton de Aquino, do Banco Central, e Paulo Henrique Costa, ex-presidente do Banco de Brasília (BRB), seria parte da estratégia de defesa do banqueiro cujo “objetivo é minar a credibilidade do Banco Central e desmontar o trabalho que levou à liquidação do Master para revertê-la e, no limite, quem sabe até receber algum tipo de ressarcimento”.
“Para que o estratagema dê certo, porém, é preciso criar fatos para justificar uma decisão de Toffoli contra os diretores e técnicos do BC. O histórico do ministro autoriza supor que ele tem chance de prosperar”, sugere a jornalista, relembrando a carona “no jatinho de um amigo empresário junto com o advogado de um dos investigados no caso para ir a Lima assistir a final da Libertadores” e acusando o ministro de estar “seguindo à risca o script da defesa” de Vorcaro.
A jornalista da Globo então passa a desqualificar Ailton de Aquino, nomeado para a diretoria de Fiscalização do BC por Lula, por indicação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Malu Gaspar acusa: “quem mais resistiu à ideia da liquidação foi o próprio Ailton Aquino, da fiscalização. Internamente no BC e no sistema financeiro, Aquino era visto como um aliado do Master”.
Em seguida, a jornalista diz que quem mais sabia “tecnicamente” sobre o processo era o diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC, Renato Dias de Brito Gomes. Segundo ela, foi Gomes quem “encontrou as fraudes nos contratos de crédito consignado que avalizaram o repasse de R$ 12, 2 bilhões do BRB para o Master pela venda da carteira, antes mesmo da fusão dos dois bancos”.
“A partir daí deu-se um racha interno, com a área de Renato Gomes propondo intervir no Master e a de Aquino tentando encontrar uma solução que permitisse ao banco seguir operando. Portanto, o integrante do BC que mais conhece as fraudes e seu mecanismo não é Aquino, e sim Gomes, que até já terminou o mandato”, diz Malu Gaspar em seu novo artigo.
Quem é Renato Gomes
Apadrinhado pelo ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante o governo Jair Bolsonaro (PL), Renato Dias de Brito Gomes comanda até esta quarta-feira (31), a diretoria de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução que tem poderes que superam até mesmo os de Galípolo, atual presidente da instituição.
Carioca e formado em economia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), a meca do neoliberalismo acadêmico no país, Gomes atuaria na defesa de André Esteves e dos grandes bancos dentro do BC.
O comportamento de Gomes, que provocou debates intensos durante o processo que resultou na liquidação do Master, teria um cunho além do técnico.
Em sua coluna no portal Metrópoles no dia 9 de setembro, muito antes do levante na mídia provocado pela narrativa de Malu Gaspar, a jornalista Gabriella Furquim, afirma que Gomes não havia se pronunciado sobre a liquidação e resistia em levar “o assunto ao colegiado, o que seria uma forma alternativa de brecar a operação mesmo sem opinar a respeito”.
Na reportagem, a jornalista fala ainda sobre o futuro do apadrinhado de Campos Neto.
“Nos bastidores, há especulação de que Renato, depois de uma quarentena, já tem destino certo. Ele estaria de malas prontas para assumir um cargo em dos chamados ‘bancões’, que são os maiores opositores da transação envolvendo o Master e o BRB”, revelou.
Procurado pela jornalista, Campos Neto afirmou que “tempo, no sistema bancário, é importante”, sobre o impasse em torno da liquidação do Master.
No artigo publicado nesta segunda-feira (29), a própria Malu Gaspar admite que a narrativa em torno de uma suposta reversão da liquidação do Master não encontra eco, além de atacar Dias Toffoli.
Falando de uma “primeira informação útil”, a jornalista da Globo confirma a decisão técnica, avalizada por Galípolo.
“A liquidação foi decidida com a aprovação unânime da diretoria colegiada do BC, incluindo o voto sim do presidente, Gabriel Galipolo, que em princípio não precisava se manifestar, já que os outros oito diretores eram a favor. A responsabilidade, portanto, é de toda a cúpula da autarquia”.






