
Em uma confluência de incríveis coincidências, neste 11 de setembro – data em que aniversariam tenebrosas transações: o golpe militar no Chile dado por Pinochet os atentados às torres gêmeas e ao Pentágono, nos EUA – o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados foram duramente condenados pela trama golpista.
Caetano Veloso, colega de profissão, contemporâneo e também participante dos lendários festivais da TV Record, afirmou em entrevista ter ouvido durante a sua prisão pelos militares, que se Vandré fosse encontrado, seria morto. A essas alturas, em 1970, o compositor já havia se exilado em Paris, onde gravou seu último e mais emblemático álbum “Das Terras do Benvirá”.
Censurado
O disquinho, na época um compacto simples, com a canção “Caminhando”, ficou terminantemente proibido durante anos seguidos. Lembro bem que a gente era obrigado a ouvi-lo baixinho, todos em torno da vitrolinha Sonata do Seu Júlio, como se fosse um hino. E, de fato, foi o que se tornou. A canção era bradada em manifestações que, invariavelmente, acabavam com muita porrada e gás lacrimogêneo. Veio, enfim, a anistia e ela perdeu um pouco a graça, com seus dois acordes e a melodia repetitiva.
O restante da obra de Vandré, no entanto, permanece até hoje como uma das belas e seminais da nossa música. Um tanto folclorizada e extremamente politizada, sua música tem sido frequentemente resgatada em novelas, filmes, documentários. São apenas cinco álbuns, todos influenciados pela canção nordestina.
Em ao menos um deles, o “Canto Geral”, vale o destaque para a participação do lendário Quarteto Novo, que contava com Hermeto Paschoal, Airto Moreira, Theo de Barros e Heraldo do Monte.
Com o fim da ditadura, Vandré voltou ao Brasil e passou a ter uma vida discreta, com raras aparições em entrevistas. Nesta sexta-feira, 12 de setembro, em um dia emblemático para a América Latina e para o mundo, ele completa 90 anos. Um artista que tem um legado enorme e, ao mesmo tempo, curto.