Aos 42 anos, um acidente na equitação (em 1995), remodelou o destino do astro de 1,93m e 89 quilos.

 

Foi apenas três anos depois de Steven Spielberg trazer à luz os blockbusters, com Tubarão (1975), e um ano depois do advento de Guerra nas estrelas, que, na Terra, mas vindo de outro planeta, um jovem personagem com o rosto de Christopher Reeve instaurou a era cinematográfica dos super-heróis, com o fenômeno Superman. Da ordem dos 425 milhões de dólares, o impulso nas bilheterias da indústria do cinema alcançado por aquele arrasa-quarteirão revela o mero apelo financeiro de Reeve; agora, com a exibição do documentário Super Man: A história de Christopher Reeve, o quadro se completa, trazendo os bastidores da jornada emotiva do ator, à perfeição, colado eternamente ao emblemático papel que viveu, em quatro filmes, por uma década.

Aos 42 anos, um acidente na equitação (em 1995), remodelou o destino do astro de 1,93m e 89 quilos. Depender da “caridade alheia” não estava nos planos do ator, cuja mãe, Barbara, cogitou desligar aparelhos médicos. Entre delírios, ele teria comunicado à esposa Dana — “Talvez seja melhor eu partir”; e, ela, de olhos expressivos, persuadiu: “Você continua sendo você, e nós te amamos”. No filme se tem o relato da sobrevivência, a especulação coletiva, o descrever das lesões na medula espinhal, as paradas cardíacas, e o processo de entubação. Impressiona ver a dedicação de Dana, transformada, como diz o filho, em “pai físico, mãe e ainda cuidadora (do marido)”. Num poema (feito às escondidas), ela registrou a dor, ao carregar as “pilhas de toalhas” que circulavam no lar.

Super Man: A história de Christopher Reeve, para além de tratar de valores familiares e de aproveitamento da vida, além de explicar lobbies para a estruturação de políticas públicas para deficientes, apresenta uma corrente humanitária, desde sempre, liderada pela carismática figura do astro. Will, um dos filhos, define o elo entre o pai  e todos, junto à atividade e à ação — tudo resultava em motivação. Embarcando na era do “saudável e livre” Reeve, nos anos de 1970, duas décadas antes de se ver tetraplágico, é ele quem, constrangido, conta ter ouvido que “na vigência da cultura pop, Jesus era Superman”.

A sede pela vida do “presente e futuro”, junto com a obstinada força para voltar a andar (e levantar fundos para pesquisas), como mostra o filme de Ian Bonhôte e Peter Ettedgui, levou Reeve à polêmica, com a publicidade que encerrava o conceito de “cura”: numa propaganda, via computação gráfica, ele voltava a caminhar. “Posso me solidarizar, mas não, necessariamente, concordo (com todos)”, defendeu.

A coragem (e o discurso) de, logo em 1996, vir a público na cerimônia do Oscar, comoveu a anfitriã da festa Whoopi Goldberg, que contou do esforço de muitos “para espantar a cara de pena”. Morto em 2004, o ator é lembrado como “grandioso”, isento de masculinidade tóxica, e persistentemente gentil. Entre algumas tiradas, Reeve emprega o termo “sequencite”, inconformado com agentes da indústria que nunca desapegam de um ideal de bilheteria superior, antevisto com sucesso de filmes feitos em série, desatentos ao teor de qualidade.

“Fui até o limite e voltei”, descreve o ator, ciente do “trem de cargas” atrelado ao sucesso. No combo estava o ímã “afrodisíaco” angariado “entre homens e mulheres”.

Parelho ao sucesso, o escárnio: num momento hilário, ele lembra da crítica lida, pontuada com a crueldade de compará-lo a um canário estridente. Também é inusitado o relato com a desilusão junto ao colega de cena Marlon Brando (intérprete de Jor-El, na franquia, o pai do herói).

Humano e transparente nos relatos, Christopher dá conta de, corajosamente, expôr as fissuras emocionais — especialmente as inseguranças sentidas pelo sistemático afastamento do espírito de paternidade de Franklin D. Reeve, escritor aristocrático que era seu pai. Para consolo geral, entretanto, estão lá as memórias impressas em surradas e ternas fitas VHS e ricos arquivos da família extensa e agigantada, que inclui a filha Alexandra, o cineasta Richard Donner, Jeff Daniels, a advogada Brooke Ellisson (amiga, acadêmica que muito pleiteou a ampliação à acessibilidade),

Susan Sarandon, Bill Clinton, John Kerry e o incansável e sensivel amigo Robin Williams. Todos, órfãos, e necessitados de heróis  simbólicos como Christopher Reeve fez extrapolar da tela de cinema.

Fonte; CorreioWeb

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