Os policiais militares Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho do Prado envolvidos no assassinato do estudante de medicina Marco Aurélio Cadernas Acosta em novembro de 2024, solicitaram uma medida protetiva contra o pai da vítima. Eles respondem ao processo em liberdade.
A defesa alega que, durante a audiência de instrução, em 10 de julho, o médico ofendeu e tentou agredir Guilherme, além de ter sido contido pelos policiais que realizavam a escolta dos réus.
Julio Cesar contou que recebeu na segunda-feira (28) a notificação com surpresa e revolta. “Onde que chegamos? É um mundo totalmente invertido, um mundo distópico. Como tudo isso é possível? […] Como esses covardes que mataram e executaram o meu filho ainda choram? Que imagem [fica] para Polícia Militar? Que imagem para o país?”
O médico ainda disse que a audiência de instrução foi a primeira vez em que ele encarou Guilherme e Bruno, apesar de ter tentado encontrá-los anteriormente no batalhão em que trabalham. “Eu tentei aproximar e me impediram. Fiz uma confusão no início”, relembra.
Em nota, os escritórios de advocacia que atuam como assistentes de acusação no processo que apura a morte do estudante acusaram a defesa dos policiais militares de fazer uma manobra para tentar, “de forma desesperada, desviar o foco do assassinato de Marco Aurélio, partindo para um ataque direto e uma tentativa de intimidação contra o pai da vítima”.
“A petição, além de processualmente impertinente, revela um profundo desrespeito à dor de uma família e um erro técnico grosseiro”, diz trecho da nota assinada pela advogada Nayara Uzoukwu.
Marco Aurélio foi morto com um tiro à queima-roupa durante uma abordagem policial na madrugada de 20 de outubro de 2024, na Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo. Ele tinha 22 anos e estava no quinto ano do curso de medicina na Universidade Anhembi Morumbi.
A confusão começou quando o estudante deu um tapa no retrovisor da viatura dos PMs Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho do Prado e correu para o interior de um hotel, onde ele estava hospedado com uma mulher.
A ação foi registrada por uma câmera de segurança. Nas imagens, é possível ver que o jovem entrou no saguão do hotel sem camisa e foi perseguido pelos policiais. Um dos agentes tentou puxar Marco Aurélio pelo braço, enquanto o outro o chutou. Em seguida, o estudante segurou a perna do policial, que caiu no chão.
Durante a confusão, o PM Guilherme atirou na altura do peito do estudante. No boletim de ocorrência, os policiais alegaram que o jovem teria tentado pegar a arma de Bruno.
Ele era o filho caçula de um casal de médicos peruanos naturalizados brasileiros que se mudou para cá há mais de duas décadas. Segundo a mãe, a intensivista Silvia Mônica, o rapaz nasceu prematuramente e concluiu o ensino médio com apenas 15 anos.
Claudio Silva, ouvidor das Polícias de São Paulo na época, afirmou que a ação é “mais um reflexo da lógica que está instalada no estado de São Paulo, de polícia que mata. Polícia que não respeita a vida”.
No relatório, o delegado Gabriel Tadeu Brienza Viera afirmou que, apesar de o estudante ter reagido à abordagem policial, o PM “assumiu o risco do resultado morte, porque usou ilegitimamente a arma de fogo para repelir uma suposta ameaça”.
A juíza Luciana Scorza considerou que o policial é réu primário, tem residência fixa na capital e não tentou interferir nas investigações do caso, podendo, portando, responder ao processo criminal em liberdade, desde que se apresente mensalmente à Justiça.
G1