247 – O anúncio do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros provocou uma reação imediata e estratégica do governo Lula (PT). De acordo com reportagem publicada pela Folha de S.Paulo, o Palácio do Planalto decidiu transformar a retaliação em oportunidade política, reforçando o discurso de defesa da soberania nacional e associando a medida ao bolsonarismo e seus aliados.

“O povo brasileiro precisa ser respeitado”, diz a mensagem publicada no perfil oficial de Lula no X (antigo Twitter), acompanhada de um cartão com a bandeira do Brasil e a assinatura do presidente. O texto destaca o compromisso com a soberania e a proteção das empresas nacionais. Em vídeo oficial já divulgado, o governo reforça essa linha: “O Brasil é um país soberano […] e ser contra nossa soberania é ser contra o Brasil”, afirma o narrador, em meio a imagens de florestas, plantações e cidadãos brasileiros.
Segundo apuração da Folha, agências de publicidade com contratos com o governo foram convocadas na última quinta-feira (10) para discutir a nova abordagem. O ministro Sidônio Palmeira, responsável pela Secom, defende que Lula intensifique a presença na mídia. O presidente já concedeu entrevistas às emissoras Record e Globo na quinta-feira (11), nas quais criticou Bolsonaro por apoiar a tarifa de Trump, “afetando a soberania do Brasil”, e instou Trump a respeitar a Justiça brasileira.
Durante reunião no Palácio do Planalto, o chanceler Mauro Vieira chegou a sugerir que o Itamaraty conduzisse a resposta diplomática. No entanto, prevaleceu a posição de que, diante do teor político do ataque, caberia a Lula se posicionar publicamente. Foi cogitada até mesmo uma rede nacional de rádio e TV, ideia posteriormente descartada.
O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), ex-governador de São Paulo, também foi escalado para ter papel de destaque nas conversas com empresários. A pedido de Lula, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que reúne representantes do setor produtivo e da sociedade civil, será convocado para avaliar os impactos da tarifa. A formação de um conselho paralelo com governadores também está em estudo.
Internamente, a retaliação americana é vista como um desafio, mas também como uma oportunidade de reposicionar o governo diante da opinião pública. Uma nova rodada de pesquisas, já encomendada pela Presidência, deverá medir o impacto da ofensiva de Trump na percepção dos brasileiros. Um levantamento de abril indicava que apenas 20% apoiavam o governo dos EUA na disputa com a China — dado que anima a estratégia da Secom.