
A Cúpula do Mercosul, realizada nesta quinta-feira (4) em Buenos Aires, foi marcada por um novo embate entre o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente argentino Javier Milei. Embora o encontro tenha ocorrido de forma protocolar, os discursos dos dois líderes deixaram evidente a distância entre suas visões sobre o futuro do bloco econômico sul-americano.
Durante a cerimônia em que a Argentina repassou à presidência rotativa do Mercosul para o Brasil, Milei voltou a criticar o modelo de integração regional, classificando-o como um entrave ao livre comércio. Segundo ele, as barreiras impostas aos países-membros dificultam a inserção no mercado internacional e acabam prejudicando os consumidores.
“Essas barreiras comerciais que criamos para nos proteger acabaram nos isolando. O resultado foi a oferta de produtos e serviços mais caros e de pior qualidade para a população”, declarou o líder argentino, que defende acordos bilaterais diretos com outras economias, sem as limitações do bloco.
Em resposta, Lula adotou um tom firme em defesa da integração regional. Ele afirmou que o Mercosul tem papel estratégico para proteger os países-membros de instabilidades globais e reforçar a presença da América do Sul no comércio internacional. “Estar no Mercosul nos protege. Nossa tarifa externa comum nos blinda contra guerras comerciais e assegura regras mais justas”, afirmou o presidente brasileiro.
Apesar do encontro, não houve reunião bilateral entre os dois chefes de Estado. A agenda oficial divulgada pelo governo brasileiro indicava apenas a participação de Lula nas atividades do Mercosul.
Após a cúpula, Lula aproveitou a passagem pela capital argentina para visitar a ex-presidente Cristina Kirchner, que cumpre prisão domiciliar por condenação relacionada a irregularidades na administração pública. A visita foi interpretada como um gesto político de aproximação com o setor peronista, tradicional aliado do Partido dos Trabalhadores no Brasil.
Durante o período em que esteve preso por condenações que posteriormente foram anuladas, Lula recebeu apoio de líderes da esquerda latino-americana, entre eles o então candidato Alberto Fernández, que viria a governar a Argentina com Kirchner como vice.