Cerca de 252 milhões de anos atrás, a vida na Terra sofreu seu golpe mais catastrófico até hoje: um evento de extinção em massa conhecido como a Grande Morte, que eliminou cerca de 90% da vida no planeta.
O que aconteceu depois intrigou os cientistas por muito tempo. O planeta se tornou letalmente quente — e permaneceu assim por 5 milhões de anos. Agora, uma equipe internacional de pesquisadores afirma ter descoberto o motivo, com base em um vasto acervo de fósseis — e tudo gira em torno das florestas tropicais.
As descobertas, publicadas nesta quarta-feira (2) na revista Nature Communications, podem ajudar a resolver um mistério antigo, mas também soam como um grave alerta para o futuro, à medida que os seres humanos continuam aquecendo o planeta com a queima de combustíveis fósseis.

A Grande Morte foi a pior das cinco extinções em massa que marcaram a história da Terra, encerrando o período geológico Permiano. Ela foi atribuída a um período de intensa atividade vulcânica na região conhecida como Traps Siberianos, que liberou enormes quantidades de carbono e outros gases de efeito estufa na atmosfera, causando um aquecimento global severo.
Inúmeras espécies marinhas e terrestres morreram, os ecossistemas entraram em colapso e os oceanos se acidificaram. O que permanecia incerto era por que o calor foi tão intenso e por que as condições de “superestufa” persistiram por tanto tempo, mesmo após o fim da atividade vulcânica.
“O nível de aquecimento está muito além de qualquer outro evento”, disse Zhen Xu, autor do estudo e pesquisador da Escola de Terra e Meio Ambiente da Universidade de Leeds, na Inglaterra. Algumas teorias apontam para os oceanos, sugerindo que o calor extremo eliminou o fitoplâncton, responsável por absorver carbono, ou alterou a composição química dos mares, tornando-os menos eficazes no armazenamento de carbono. Mas os cientistas da Universidade de Leeds, no Reino Unido, e da Universidade de Geociências da China acreditam que a resposta está em um ponto de inflexão climático: o colapso das florestas tropicais.
O evento da Grande Morte é único “porque é o único no qual todas as plantas morreram”, explicou Benjamin Mills, coautor do estudo e professor de evolução do sistema terrestre em Leeds. Para testar essa teoria, eles utilizaram um arquivo de fósseis na China, reunido ao longo de décadas por três gerações de geólogos chineses.
Ao analisar os fósseis e formações rochosas, conseguiram obter pistas sobre as condições climáticas do passado, o que permitiu reconstruir mapas das plantas e árvores que viviam em diferentes partes do planeta antes, durante e depois do evento de extinção. “Ninguém nunca fez mapas como esses antes”, disse Mills à CNN. Os resultados confirmaram a hipótese: a perda da vegetação durante o evento de extinção reduziu significativamente a capacidade da Terra de armazenar carbono, fazendo com que níveis muito altos permanecessem na atmosfera.
As florestas são essenciais para o equilíbrio climático, pois absorvem e armazenam carbono. Também desempenham um papel fundamental no “intemperismo de silicatos”, um processo químico que envolve rochas e água da chuva e é um dos principais meios de remoção do composto da atmosfera. As raízes das árvores e das plantas ajudam nesse processo ao quebrar rochas e permitir que água e ar cheguem até elas.
Quando as florestas morrem, “você muda o ciclo do carbono”, explicou Mills, referindo-se ao modo como o elemento circula pela Terra — entre a atmosfera, o solo, os oceanos e os seres vivos. Michael Benton, professor de paleontologia da Universidade de Bristol, que não participou do estudo, afirmou que a pesquisa mostra que “a ausência de florestas realmente impacta os ciclos regulares de oxigênio e carbono e suprime o sequestro de carbono, fazendo com que níveis elevados de CO₂ permaneçam na atmosfera por períodos prolongados”, disse à CNN.
Ele destacou o que chamou de “efeito de limiar”, em que a perda das florestas se torna “irreversível em escalas de tempo ecológicas”. A política global atualmente se baseia na ideia de que, se os níveis de dióxido de carbono forem controlados, os danos poderão ser revertidos. “Mas, ao atingir o limiar, torna-se difícil para a vida se recuperar”, disse Benton. Essa é uma das principais conclusões do estudo, segundo Mills.
Ele mostra o que pode acontecer se o aquecimento global rápido levar ao colapso das florestas tropicais — um ponto de inflexão que preocupa muito os cientistas. Mesmo que os seres humanos parem completamente de emitir poluição que aquece o planeta, a Terra pode não esfriar. Na verdade, o aquecimento pode se acelerar, disse Mills.
Há, no entanto, um fio de esperança: as florestas tropicais atuais podem ser mais resistentes às altas temperaturas do que as que existiam antes da Grande Morte. Essa é a próxima pergunta que os cientistas pretendem responder. Ainda assim, o estudo é um alerta, afirmou Mills. “Existe um ponto de inflexão. Se você aquecer demais as florestas tropicais, temos um ótimo registro do que acontece. E é extremamente ruim.”