
Enquanto no Congresso Nacional o bolsonarismo ainda tenta se manter vivo ao articular, com apoio do centrão, estratégias para desestabilizar o governo Lula e barrar sua reeleição em 2026, nas ruas o movimento liderado por Jair Bolsonaro — hoje inelegível e cada vez mais próximo de uma condenação judicial — dá sinais claros de esgotamento.
É o que avaliam lideranças e parlamentares do campo progressista após o ato convocado por Bolsonaro neste domingo (29), na Avenida Paulista, em São Paulo. Diferente das manifestações massivas que marcaram os últimos anos, o protesto foi um fracasso de público, com forte presença de radicais saudosistas da ditadura militar, discursos desconexos e bandeiras confusas. Nem mesmo a defesa da anistia para os golpistas do 8 de janeiro conseguiu mobilizar com força a base bolsonarista.
Nos bastidores, até aliados do ex-presidente reconhecem o fracasso. O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder da bancada do partido na Câmara, tentou justificar o esvaziamento culpando o calendário. “É o penúltimo dia do mês. Nosso povo sempre paga passagem, mais as despesas de Uber”, disse ele, do alto do trio elétrico, em tom resignado.
O ato deste domingo bateu recorde negativo de adesão entre as manifestações bolsonaristas de 2024. Segundo levantamento do Monitor do Debate Político da USP em parceria com a ONG More in Common, com base em imagens de drones e análise por inteligência artificial, cerca de 12,4 mil pessoas estiveram na Paulista por volta das 15h40. A margem de erro é de aproximadamente 12%, o que reforça a percepção de esvaziamento.
Para efeito de comparação, o ato anterior convocado por Bolsonaro, realizado em 6 de abril, reuniu cerca de 45 mil pessoas. Desta vez, nem dois quarteirões da avenida foram ocupados — como mostram imagens veiculadas até mesmo por sites simpáticos ao ex-presidente.
Registros feitos no momento em que Bolsonaro iniciou seu discurso confirmam o cenário de baixa mobilização. A “micareta golpista”, como foi apelidada por críticos, parece perder cada vez mais espaço nas ruas — e, com ela, o próprio fôlego do bolsonarismo.