Mas não apenas como ator Eastwood deixou sua marca no imaginário cultural do Velho Oeste
Se foi na trilogia dos dólares de Sergio Leone que um novato Clint Eastwood ganhava seu primeiro papel de destaque, essa se tornaria apenas uma das primeiras incursões do ator e cineasta no gênero formativo para o cinema americano: o faroeste. Do caubói a pistoleiro e bandido, Eastwood encarnou o arquétipo do anti-herói intimidador e obstinado que fez tanto sucesso no estilo.
Mas não apenas como ator Eastwood deixou sua marca no imaginário cultural do Velho Oeste. Seus westerns contribuíram para que esse mito fundacional estadunidense seguisse para o século XXI com novos olhares e perspectivas. Um deles, já considerado um clássico, é o que muitos chamam de obra-prima da carreira de Eastwood.
Varrendo o streaming: Esse faroeste de Clint Eastwood merecia ser o último de sua carreira
Em Os Imperdoáveis, Eastwood interpreta o aposentado fora-da-lei William Munny que, agora trabalhando como fazendeiro, volta à ativa uma última vez para caçar uma dupla de criminosos. Ao lado de seu antigo parceiro Ned Logan e de um novato inexperiente chamado Schofield Kid, Munny vai atrás da alta recompensa colocada na cabeça dos homens que tentaram matar uma prostituta.
Num filme que explora noções de justiça, moralidade e heroísmo, Eastwood traz para a discussão os valores ambíguos e complexos desses exatos temas. Os Imperdoáveis revisita os tropos e os clichês do faroeste para subvertê-los num drama maduro sem maniqueísmos de bem e mal, vilões e heróis. Munny representa a brutalidade de uma vida dedicada à matança sem sentido, mas que deixa feridas que, mais tarde, retornam para assombrar.
Os Imperdoáveis pode até ter demorado uns bons dez anos para ser feito, mas seu atraso foi a decisão que trouxe os méritos artísticos e o consequente sucesso comercial para o filme. Em um discurso para o American Film Institute na cerimônia de comemoração dos 40 anos da organização, Eastwood contou que, apesar de ter se apaixonado pelo roteiro na década de 80, quando o adquiriu do estúdio, conscientemente pensou que talvez era melhor estar mais velho para fazer o personagem.
A bagagem de um legado e de uma carreira prolífica no cinema e no gênero do faroeste fez com que Eastwood moldasse uma história sofisticada que arrecadou quatro estatuetas do Oscar em 1993. Reunindo ainda um elenco de grandes estrelas, como Gene Hackman, Morgan Freeman, Richard Harris, Frances Fisher. Os Imperdoáveis ficou mais de dez anos na gaveta apenas amadurecendo como um bom vinho.
