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Jovens capixabas apostam no mundo off-line para fugir das redes sociais

Melissa resgatou antiga câmera. “Assim registro momentos menos superficialmente”. Acervo pessoal

O desejo de desconexão das redes sociais e a nostalgia vêm motivando a geração Z, que inclui os nascidos entre 1995 e 2010, a retomar tecnologias deixadas de lado, como câmeras fotográficas digitais, discos de vinil, CDs, entre outros.

Para os chamados “nativos digitais”, a “volta no tempo” é adotada como uma forma de desacelerar em meio aos avanços tecnológicos e das redes sociais, transformando em tendência o que antes era ultrapassado.

Quem aderiu a esse movimento foi a jovem Melissa Dalti. A chance de se desconectar” foi levada em consideração por ela ao resgatar a antiga “Sony Cyber-shot”, modelo que fez sucesso nos anos 2000.

“Acho que é uma forma de registrar momentos menos superficialmente. A rapidez do celular tira um pouco da graça de fotografar”, afirma Melissa

Guilherme Thomaz também aderiu às câmeras analógicas e digitais por apreciar a estética das imagens. “Uma foto tirada com uma câmera dessas já tem um estilo próprio que vai diferenciar das fotos tiradas pelo celular, que é o que todo mundo faz hoje em dia”, explica.

Essa alternativa também está ligada à nostalgia. “A volta desses pequenos rituais, como esperar uma foto analógica ser revelada, torna o momento de tirar a foto mais especial e faz gente valorizar mais o que está capturando”, diz Guilherme.

Já para o Pedro Santiago ouvir música diretamente de um disco de vinil é uma das formas de deixar a internet de lado e apreciar a arte. Em tempos de serviços de streaming e de plataformas de música, o jovem mantém, desde a infância, o gosto de colecionar os chamados “bolachões” e já tem 65 discos comprados em bazares, feiras de rua, antiquários ou em lojas on-line.

“Atualmente a gente consome muitas músicas de forma passiva. Mas compreender essa arte e consumi-la também tem que ser feita de forma ativa. Com o vinil, eu posso parar tudo o que estou fazendo para poder ouvir a música da melhor forma possível”, destaca.

Pedro Santiago gosta de comprar discos de vinil em antiquários e feiras. (Acervo pessoal)

Nos Estados Unidos, por sua vez, alguns jovens estão trocando seus celulares pelos chamados “dumbphones” — um trocadilho que chama os telefones mais simples de “celulares burros” em comparação aos smartphones, os “celulares inteligentes”.

Algumas marcas já lançaram novas versões dos equipamentos, como a Nokia e a Heineken. A marca de cerveja divulgou em abril a campanha “The Boring Phone” com a proposta de desconectar das redes e se conectar às pessoas ao redor com o “celular mais chato do mundo”.

Para Everlam Elias Montibeler, professor do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), investir nessa tendência pode ser arriscado para o mercado. Mas, se a moda pegar, os celulares simples podem ajudar a moderar o uso de tecnologia no dia a dia.

“A produtividade também é um ponto importante para a economia. Usar um telefone mais simples pode ser uma alternativa para evitar distrações e fazer a pessoa organizar melhor seu tempo”, explica o economista.

De acordo com o relatório “Panorama da Saúde Mental”, divulgado pelo Instituto Cactus e pela AtlasIntel, 36,9% dos brasileiros dizem passar 3 horas ou mais por dia nas redes sociais. Desse grupo, 43,5% possuem diagnóstico de ansiedade.

“A ansiedade, a insegurança e a comparação são apenas algumas das consequências causadas pelo uso frequente das redes”, explica a psicóloga Anne Daltro.

Para a psicóloga, aderir às tecnologias antigas, como estão fazendo alguns jovens da geração Z, pode ser uma alternativa para deixar o celular de lado e, assim, reduzir a dependência do uso de telas e do mundo virtual.

“Sair de casa com uma câmera para fotografar, ao invés de usar o celular, pode ser uma boa opção. Outra ideia é fazer um ‘detox’ ficando um dia inteiro sem usar o celular em uma viagem, por exemplo. E claro, quando não estiver se sentindo bem, buscar terapia é essencial para ajudar a lidar com essas questões”, finaliza a psicóloga.

Carol Leal é aluna do 27º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Este conteúdo foi publicado sob a supervisão de Weber Caldas, editor do Núcleo de Reportagens.

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